
Imagine esperar 14 anos por justiça. Não dias, não meses — anos. Foi exatamente o que aconteceu com uma vítima de violência doméstica em Mato Grosso do Sul, que viu a Lei Maria da Penha falhar justamente quando mais precisava.
O caso — que parece saído de um pesadelo burocrático — começou em 2011. A mulher, cujo nome não foi divulgado (afinal, quantas ainda sofrem caladas?), registrou a ocorrência, fez exame de corpo de delito, seguiu todos os passos. E então... nada. O processo simplesmente desapareceu no labirinto judicial.
O preço da espera
"Pensei que fosse questão de semanas", contou ela, com uma voz que misturava cansaço e revolta. "Anos se passaram e eu me senti abandonada pelo próprio sistema que deveria me proteger."
Não é exagero dizer que a demora foi quase uma segunda violência. Enquanto isso:
- O agressor continuou livre
- Ela viveu sob constante ameaça
- A saúde mental foi pro saco
- A confiança na Justiça virou pó
Falha sistêmica ou descaso?
Especialistas ouvidos pelo G1 foram diretos: esse caso não é exceção. É a regra num sistema que trata violência doméstica como "mais um processo" na pilha. "Temos juízes que ainda acham que briga de casal é coisa menor", disparou uma defensora pública.
E os números assustam:
- Mato Grosso do Sul tem uma das menores taxas de deferimento de medidas protetivas
- Processos podem levar até 5 anos só para primeira análise
- 70% das vítimas desistem no meio do caminho
"Quando a lei finalmente funcionou pra mim, já era tarde demais", confessou a vítima. "Não quero mais saber de Justiça." Uma frase que deveria doer nos ouvidos de qualquer um que acredita no Estado de Direito.