Tragédia no Maranhão: Mulher trans indígena é assassinada com sinais de violência extrema em Arame
Mulher trans indígena assassinada com violência no MA

A notícia chegou como um soco no estômago para a pequena Arame, cidade do interior maranhense que mal ultrapassa os 30 mil habitantes. Na última segunda-feira, o corpo sem vida de Kokury Sateré-Mawé, uma mulher trans indígena de apenas 24 anos, foi encontrado em uma área rural do município. E o cenário era de cortar o coração.

Testemunhas que chegaram primeiro ao local contam que o corpo apresentava marcas profundas de arame farpado — detalhe macabro que não passa despercebido por ninguém. A cena sugeria uma violência que vai muito além do que podemos imaginar. Como será que uma pessoa consegue chegar a esse nível de crueldade?

Quem era Kokury?

Kokury não era apenas mais um nome nas estatísticas. Nascida no Amazonas, ela pertencia ao povo Sateré-Mawé e havia escolhido Arame para recomeçar sua vida. Amigos a descrevem como alguém de sorriso fácil, sempre disposta a ajudar os outros. "Ela tinha um jeito único de ver o mundo", lembra uma vizinha que prefere não se identificar. "Sempre arrumava um jeito de animar o dia da gente."

Mas a realidade para pessoas trans indígenas no Brasil é dura, muito dura. E Kokury carregava essa dupla vulnerabilidade nas costas todos os dias. Não é exagero dizer que ela enfrentava preconceito por todos os lados — por ser mulher trans, por ser indígena, e por tentar sobreviver num interior que muitas vezes fecha os olhos para a diversidade.

O que a polícia está fazendo?

A Polícia Civil assumiu as investigações e já começou a colher depoimentos. O delegado responsável pelo caso afirmou que todas as linhas de investigação estão sendo consideradas, incluindo a possibilidade de crime de ódio. "Não vamos medir esforços para esclarecer esse crime bárbaro", prometeu em entrevista coletiva.

Mas aqui entre nós — será que a polícia tem recursos suficientes para investigar adequadamente? Arame não é São Paulo ou Rio de Janeiro. A estrutura é limitada, os investigadores estão sobrecarregados... É difícil não ficar cético.

Um padrão que se repete

O que mais deixa a comunidade LGBTQIA+ em alerta é que esse não é um caso isolado. Dados da ANTRA mostram que o Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo — triste recorde que mantemos há anos. E quando falamos de mulheres trans indígenas, a situação é ainda mais grave.

Parece que certos setores da sociedade ainda acham que têm o direito de decidir quem merece viver e quem não merece. E isso é assustador.

E agora?

Enquanto a polícia corre contra o tempo para encontrar respostas, a comunidade de Arame tenta processar o luto. Há velas acesas na praça principal, cartazes com fotos de Kokury, e um silêncio pesado que fala mais que mil palavras.

Organizações de direitos humanos já se manifestaram, exigindo celeridade nas investigações e justiça. "Não podemos normalizar essas mortes", alerta um ativista local. "Cada vida importa, especialmente as que são constantemente ameaçadas."

O corpo de Kokury foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Imperatriz, onde deve passar por novos exames. A família, que reside no Amazonas, foi localizada e deve chegar ao Maranhão nos próximos dias.

Enquanto isso, resta a pergunta que não quer calar: quantas Kokurys precisam morrer antes que a sociedade acorde para essa realidade cruel?