
Os números pintam um cenário contraditório — e preocupante. Enquanto o Brasil comemora uma redução nos casos de exploração sexual infantil, Santa Catarina parece nadar contra a maré, com estatísticas que deixam especialistas de cabelo em pé.
Dados recentes mostram que, de janeiro a julho deste ano, o estado catarinense registrou um aumento de quase 30% nas ocorrências desse crime hediondo. Um verdadeiro balde de água fria num momento em que o país todo respira aliviado com a queda nacional de 15%.
O que está por trás dos números?
Conversando com quem entende do riscado, a situação fica ainda mais complexa. "Não dá pra comemorar a queda nacional como se fosse vitória definitiva", dispara a psicóloga Ana Lúcia Mendes, que trabalha há 15 anos com vítimas. "Em SC, o aumento pode refletir tanto maior ocorrência real quanto melhora na notificação — e ambos os cenários exigem atenção."
Alguns fatores que podem explicar o fenômeno:
- Rotas turísticas movimentadas no litoral catarinense
- Crescimento desordenado em cidades médias do interior
- Fortalecimento de redes criminosas que cruzam fronteiras estaduais
E tem mais: enquanto na maioria dos estados a internet aparece como principal cenário dos crimes, em Santa Catarina os casos presenciais — em estradas, hotéis e até residências — representam quase 60% das ocorrências. Um dado que desafia as estratégias convencionais de combate.
O outro lado da moeda
Se por um lado os números assustam, por outro revelam que a população está menos tolerante. "O aumento nas denúncias pode significar que as campanhas de conscientização estão funcionando", pondera o delegado Carlos Eduardo Fontes, da Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente. "Mas claro, o ideal seria que os crimes sequer existissem para serem denunciados."
Nas ruas de Florianópolis, a opinião pública parece dividida. "A gente ouve falar tanto nisso que até parece exagero", comenta um taxista que prefere não se identificar. Já a professora Mariana Costa, 42 anos, é categórica: "Não dá pra fechar os olhos. Se tem mais denúncia, é porque tem mais crime mesmo."
Enquanto isso, as autoridades tentam correr atrás do prejuízo. O estado anunciou recentemente a ampliação do programa "Escola Segura", que treina educadores para identificar sinais de abuso. Mas especialistas alertam: sem investimento maciço em inteligência policial e assistência às vítimas, qualquer medida será apenas um curativo num ferimento profundo.