Esquema milionário desmontado pela Polícia Federal em Sorocaba
A Polícia Federal desvendou uma complexa operação de lavagem de dinheiro que movimentou mais de R$ 11 milhões através de 3.437 depósitos bancários fracionados na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo. As investigações da Operação Copia e Cola resultaram no afastamento do prefeito Rodrigo Manga por 180 dias e na prisão de dois investigados.
Detalhes das movimentações financeiras
Os documentos obtidos pelo g1 e TV TEM revelam que o esquema utilizava contratos fictícios de publicidade entre a empresa 2M Comunicação e Assessoria, pertencente à primeira-dama Sirlange Rodrigues Frate, e outras entidades como fachada para lavagem de capitais. Segundo a PF, os contratos eram "ficção" e "estratagema" para esquentar propinas.
O montante de R$ 11 milhões foi distribuído em depósitos em espécie da seguinte forma:
- Josivaldo Batista Souza: 2.221 depósitos totalizando R$ 2.917.556,00
- Marco Silva Mott e Empresas: 258 depósitos somando R$ 6.520.406,05
- Cruzadas dos Milagres: 958 depósitos
Mecanismo do esquema de lavagem
A investigação identificou que a igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus atuava como intermediária no esquema. A entidade religiosa pagou R$ 780 mil à empresa da primeira-dama por supostos serviços de publicidade que, segundo a PF, nunca foram prestados.
O método consistia em depósitos fracionados em dinheiro vivo na conta pessoal de Josivaldo Batista Souza, cunhado do prefeito, seguidos de transferências imediatas para a igreja, que então repassava os valores para a 2M Comunicação.
Em 25 de março de 2021, diversos depósitos fracionados foram feitos na conta de Josivaldo, que no mesmo dia transferiu R$ 30 mil para a Cruzada de Milagres. A igreja, por sua vez, repassou imediatamente os R$ 30 mil para a 2M Comunicação. O mesmo padrão se repetiu em 29 de abril e 26 de novembro de 2021.
Contabilidade paralela e despesas pessoais
A PF descobriu um sistema de contabilidade paralela mantido no bloco de notas do celular de Josivaldo Batista. As anotações registravam valores de propina pagos por empresas interessadas em vencer licitações na Prefeitura de Sorocaba.
A esposa de Josivaldo, Simone, também mantinha registros financeiros em folhas de papel controlando pagamentos de despesas pessoais da família Manga, incluindo:
- Boletos de clube associativo
- Condomínio residencial
- Mensalidade da faculdade da filha do prefeito
- Custeio mensal de cavalos pertencentes ao prefeito
Segundo as investigações, todas essas despesas eram pagas com recursos de origem ilícita.
Defesas dos investigados
A defesa de Rodrigo Manga, através do escritório Bialski Advogados Associados, afirmou que a investigação é "completamente nula" por ter sido iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade incompetente.
Os advogados de Sirlange Rodrigues Frate Maganhato informaram que todas as operações financeiras são lícitas, documentadas e declaradas em Imposto de Renda, afirmando que todos os serviços foram efetivamente prestados.
Os representantes de Josivaldo, Simone e da Igreja Cruzada de Milagres não se manifestaram sobre os depósitos específicos, mas em outras oportunidades afirmaram que seus clientes jamais participaram de atividades ilícitas.
A defesa de Marco Silva Mott também não comentou sobre os depósitos até a publicação da reportagem, limitando-se a dizer que desconhece os fatos citados e que se manifestará quando acessar as provas da investigação criminal.