
Era para ser apenas mais uma noite de futebol, daquelas que aquecem o coração dos alagoanos. Mas o que deveria terminar em conversas sobre lances e jogadas degenerou na mais pura barbárie. Dois homens, Jefferson Ferreira da Silva e José Roberto dos Santos, estão agora sentados no banco dos réus, encarando a Justiça pelo que fizeram na madrugada do dia 27 de novembro de 2022.
O clima, dizem testemunhas, estava pesado desde o clássico entre CSA e CRB no Estádio Rei Pelé. Quando a torcida começou a se dispersar, algo estourou. Não foi briga de torcidas organizadas, nada daquilo. Foi algo mais pessoal, mais visceral.
Uma noite que terminou em tragédia
Eles encontraram o torcedor do CSA, Wanderson Rafael dos Santos, de 32 anos, na Rua São Francisco, no bairro do Trapiche. O que começou como discussão rapidamente virou linchamento. Jefferson e José Roberto - segundo a acusação - não mediram a força. Espancaram Wanderson com uma fúria que impressiona até os investigadores mais experientes.
O que se viu depois foram cenas de partir o coração. Wanderson, socorrido às pressas, não resistiu. O laudo do IML não deixa margem para dúvidas: traumatismo craniano grave. A vida de um jovem ceifada por... por quê? Por cores de time? Por uma rivalidade que deveria ser só esportiva?
O longo caminho até o júri
Quase três anos se passaram. Três anos de dor para a família de Wanderson, três anos de processos, audiências, recursos. A denúncia do Ministério Público foi aceita, e agora o caso finalmente chegou ao Tribunal do Júri. É a hora da verdade.
Os dois réus respondem por homicídio qualificado - e as qualificadoras são pesadas: motivo fútil e uso de meio cruel. A defesa, é claro, vai tentar abrandar a situação. Sempre tenta. Mas as evidências são fortes, muito fortes.
O promotor Gabriel Lopes não esconde a gravidade do caso. "É inaceitável que uma discussão sobre futebol termine com uma vida perdida", disse em uma das audiências. A sociedade alagoana parece concordar - o caso gerou comoção genuína, daquela que faz as pessoas pararem para pensar no que estamos nos tornando.
Além do placar: o que fica?
O futebol, esse esporte que deveria unir, mostrou mais uma vez seu lado sombrio. Não é sobre torcer para time A ou B - é sobre a humanidade que perdemos no caminho. Wanderson era torcedor do CSA, sim, mas antes de tudo era filho, era alguém com sonhos, com história.
Enquanto os jurados se preparam para ouvir os depoimentos, a pergunta que fica é: quando é que vamos entender que uma partida de futebol é apenas isso, uma partida? Que no dia seguinte há outra, e outra, e a vida continua - exceto para quem não tem mais essa chance.
O julgamento promete ser longo, doloroso, mas necessário. Por Wanderson, por sua família, e por todos nós que ainda acreditamos que o esporte pode ser sobre paixão, não sobre violência.