
Numa dessas reviravoltas que só o dia a dia do tribunal proporciona, uma cena no mínimo curiosa chamou atenção durante uma audiência de custódia aqui em Goiás. Aconteceu coisa de uma semana atrás, mas o vídeo só ganhou as redes agora — e, bom, é daqueles que a gente não sabe se ri, se reflete, ou se faz os dois.
A juíza Thaís Karoline de Oliveira Lara, da 2ª Vara Criminal de Anápolis, estava conduzindo a rotina pesada das custódias quando deparou com um rosto conhecido. Deu uma piscada, olhou de novo com aquela expressão que a gente faz quando encontra o primo distante no shopping — mistura de surpresa com ‘não acredito’ — e soltou, num tom que não era de censura, mas quase de cumplicidade:
— Você aqui de novo?
Pois é. O detento, que já tinha passado por ela antes, voltava ao mesmo lugar, pelas mesmas razões. A reação dela foi tão espontânea, tão… humana, que até quem tava na sala deve ter segurando o riso. Não era deboche, longe disso. Era só o cansaço de ver a roda girar e girar e a mesma pessoa continuar caindo.
O Contexto por Trás do Riso
A audiência de custódia não é brincadeira — é um direito fundamental, previsto na Constituição, onde o preso precisa ser apresentado a um juiz em até 24 horas após a prisão. É sério, tenso, e muitas vezes triste.
Mas eis que, no meio de tanta formalidade e peso, um momento de leveza aparece. A magistrada não ignorou a gravidade do sistema, claro. Ela seguiu o rito, analisou o caso, conversou com o Ministério Público e a defesa. Mas aquele instante de reconhecimento, aquele “olá, de novo”, mostrou que por trás da toga tem gente. Gente que vê, que lembra, que se impressiona.
E cá entre nós: quantas vezes a gente vê histórias se repetirem? Pessoas que parecem presas num ciclo sem fim? A fala dela, ainda que descontraída, ecoa uma frustração silenciosa de quem trabalha com justiça todo santo dia.
Nem Tudo São Riso: A Situação do Preso
O homem em questão foi detido por suspeita de roubo — e, pasmem, ele já respondia a outro processo pelo mesmo crime. Ou seja: reincidência na veia. A juíza, depois do susto inicial, tratou de avaliar a legalidade da prisão e conversou com as partes.
No fim, a decisão foi pela manutenção da prisão. Não tinha outro caminho, dada a situação. Mas o que ficou não foi só a sentença, e sim aquele momento de pura verdade entre a autoridade e o acusado. Algo raro, algo genuíno.
Essas cenas, ainda que pequenas, quebram a frieza do processo. Mostram que justiça também pode ter um olhar, uma memória, até um sorriso cansado. E talvez seja isso que tenha tocado tanto quem viu o vídeo.
No final das contas, a vida real é assim — cheia de contrastes. Um dia você ri de uma coincidência absurda, no outro você senta e pensa sobre como certos padrões se repetem. E a justiça, com toda sua solenidade, também é feita desses pedacinhos de humanidade.