
Numa dessas reviravoltas que parecem saídas de roteiro de série policial, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) de São Paulo desbaratou um esquema no mínimo peculiar. E olha que os investigadores já viram de tudo nessa vida.
O que parecia ser apenas um pacote inofensivo de balas de goma escondia um segredo ácido — literalmente. Cada doce vinha infundido com LSD líquido, uma das substâncias alucinógenas mais potentes que existem. O detalhe? O produto era vendido a peso de ouro para um público seleto da alta sociedade paulistana.
O modus operandi
Segundo os agentes, o esquema funcionava com uma discrição que faria qualquer traficante comum corar de vergonha. As balas — aquelas coloridas que lembram infância — eram embaladas em pacotes comuns de doces. Nada de plásticos suspeitos ou embalagens escuras. A diferença estava no recheio: cada unidade continha cerca de 200 microgramas da substância psicodélica.
"Quando abrimos a primeira embalagem, parecia só mais um doce qualquer", contou um delegado que preferiu não se identificar. "Mas os testes não mentem. Era LSD puro, e de excelente qualidade, diga-se de passagem."
Público-alvo: quem tem dinheiro para pagar
O que mais chamou atenção foi o perfil dos clientes. Enquanto o tráfico convencional opera nas periferias, esse produto era claramente direcionado para outro nicho:
- Preço por unidade: R$ 150 a R$ 200
- Pacote com 10 unidades: R$ 1.500
- Compradores frequentes: empresários, artistas e herdeiros de famílias ricas
Não é todo mundo que pode bancar uma trip dessas, não é mesmo? A questão é que, por trás da aparente sofisticação, o risco permanece o mesmo — ou até maior. LSD em doses erradas pode causar desde crises de pânico até psicoses permanentes, alertam os especialistas.
E tem mais: os investigadores suspeitam que o esquema possa ter ligações internacionais. As embalagens tinham características que sugerem produção fora do país, possivelmente na Europa. Mas isso ainda está sendo apurado.
O que diz a lei
Para quem acha que por ser "droga de rico" a pena é menor, engano seu. O artigo 33 da Lei de Drogas prevê pena de 5 a 15 anos de prisão para quem comercializa substâncias ilícitas — não importa se é na favela ou no jardim de inverno de um apartamento de luxo.
A operação, batizada ironicamente de "Doce Veneno", continua em andamento. Até agora, dois suspeitos foram presos em flagrante, mas os investigadores acreditam que a rede seja bem maior. "Isso aqui é só a ponta do iceberg", comentou um dos policiais envolvidos.
Enquanto isso, nas zonas nobres de São Paulo, mais de um consumidor deve estar recalculando suas escolhas. Porque quando a conta chega — e ela sempre chega — o preço pode ser bem mais amargo que qualquer bala de goma.