Um técnico de enfermagem com quase duas décadas de experiência perdeu o emprego após ser enganado por um golpista que se fazia passar por médico. O caso ocorreu no Hospital Beneficência Portuguesa, na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, e envolveu o vazamento de informações confidenciais de pacientes.
Como o golpe funcionou
Sidnei Alves Monteiro, o técnico de enfermagem, contou que o criminoso entrou em contato através do ramal telefônico interno do hospital. O estelionatário se apresentou usando o nome real de um médico que atuava no centro cirúrgico da instituição, o que deu credibilidade inicial à abordagem.
Para aumentar a persuasão, o golpista já possuía os nomes completos de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele então solicitou a Sidnei as numerações dos prontuários dessas pessoas. Acreditando estar auxiliando um colega de trabalho legítimo, o técnico acabou cedendo.
De boa-fé, Sidnei encaminhou fotos das capas dos prontuários e uma lista de ramais telefônicos internos para um número de celular indicado pelo falso médico. Ele ressalta, no entanto, que não forneceu os contatos pessoais dos pacientes.
As consequências e a demissão
A situação veio à tona quando uma das pacientes identificou a fraude. Ao receber a foto de seu prontuário enviada pelo golpista, ela notou o nome de Sidnei no documento e fez uma denúncia formal ao hospital.
O Hospital Beneficência Portuguesa conduziu uma apuração interna e decidiu pelo desligamento do funcionário. Em nota oficial, a instituição afirmou que Sidnei foi demitido por descumprir normas internas, com destaque para a violação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e das diretrizes de segurança da informação e do paciente.
O hospital detalhou que, além de expor dados pessoais, o técnico fotografou a tela do computador da instituição com a ficha de um enfermo. Ele também passou a usar seu celular pessoal para manter contato com o suposto médico e forneceu informações sobre um paciente de um setor diferente daquele onde atuava, extrapolando suas atribuições.
Investigação policial e reviravolta
O caso foi registrado como estelionato no 2º Distrito Policial de Santos. O Setor de Investigações Gerais (SIG) assumiu o caso e trabalha para identificar quem se beneficiou com as informações obtidas pelo golpista.
Uma reviravolta importante, segundo a Polícia Civil, é que nenhuma das supostas vítimas do golpe registrou boletim de ocorrência. As autoridades também afirmam que, até o momento, não foi identificado nenhum prejuízo concreto decorrente do vazamento.
Sidnei, que tinha uma carreira de 18 anos na área, se diz devastado. "Minha carreira de 18 anos foi manchada por eu levar o golpe, eu sou o culpado pelo golpe?", questionou o profissional em entrevista. Ele afirmou que agiu pensando em ajudar na investigação interna e não imaginava que o resultado seria uma demissão por justa causa.
O hospital reiterou que todos os colaboradores são orientados de que qualquer informação sobre pacientes só pode ser fornecida com autorização formal e pelo médico responsável, seguindo rigorosos protocolos de ética e segurança.