
Imagine abrir a porta de um local e se deparar com oito vidas à beira do colapso. Foi exatamente o que aconteceu na Vila Isabel, em Pirajuí, onde um cenário de negligência extrema veio à tona. Os animais — todos cães — estavam em condições que até um leigo reconheceria como inaceitáveis: desnutridos, com sinais de abandono e, em alguns casos, com feridas aparentes.
Não foi preciso muito para que a situação chamasse a atenção. Vizinhos, aqueles que vivem no dia a dia do bairro, começaram a notar algo errado. "A gente via os cachorros cada vez mais magros, mas não imaginava que fosse tão grave", contou uma moradora que preferiu não se identificar. Até que, na última quarta-feira (23), a denúncia ganhou corpo e as autoridades agiram.
O resgate: entre alívio e indignação
Chegando ao local, os agentes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e da Polícia Ambiental encontraram um cenário que misturava abandono e sofrimento. Os cães, de diferentes portes e raças, estavam confinados sem acesso a água limpa ou comida adequada. Um deles, um vira-lata de pelagem clara, sequer conseguia se levantar sozinho.
"É revoltante", desabafou um dos voluntários que participou da operação. "A gente sabe que esses casos existem, mas ver de perto é outra coisa." Os animais foram encaminhados para atendimento veterinário emergencial. Alguns precisaram de hidratação intravenosa — tamanho o estado de debilidade.
E agora?
Enquanto os cães se recuperam, a pergunta que fica é: o que leva alguém a tratar seres vivos dessa forma? Especialistas em comportamento animal afirmam que casos assim muitas vezes refletem uma combinação perigosa de ignorância e falta de empatia. "Não é raro que as pessoas adotem ou comprem animais sem ter a menor noção das responsabilidades envolvidas", explica a veterinária Dra. Luísa Menezes.
O caso já está nas mãos da Justiça. O responsável pelo local pode responder por maus-tratos, crime previsto no Artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98). A pena? Multa e até um ano de detenção — algo que, na opinião de muitos moradores, ainda é pouco perto do dano causado.
Enquanto isso, na Vila Isabel, o assunto não sai dos grupos de WhatsApp. "A gente cuida dos nossos cachorros como se fossem da família", comenta Dona Marta, aposentada que há 20 anos vive no bairro. "Não dá pra entender como alguém consegue dormir em paz depois de fazer uma coisa dessas."