Favela do Moinho: A Última Comunidade do Centro de SP que Resiste ao Abandono e Luta por Moradia
Favela do Moinho: a resistência no centro de SP

Era uma vez uma fábrica de farinha que dava nome a um lugar — Moinho. Mas isso foi há décadas, num tempo que poucos na região central de São Paulo sequer se lembram. O que restou não é poesia, não é nostalgia. São pilhas de entulho, estruturas tortas que desafiam a física e, no meio disso tudo, gente. Sim, gente como a gente.

Parece cenário de filme pós-apocalíptico, mas é a realidade nua e crua de quem chama a Favela do Moinho de lar. A última comunidade do centro — acredite se quiser — ainda de pé, agarrando-se com unhas e dentes a um pedaço de chão que muitos considerariam perdido.

Um Incêndio que Não Apagou Tudo

2022 não foi um ano qualquer. Um incêndio de grandes proporções varreu parte da comunidade. Tragédia? Sem dúvida. Mas sabe o que é pior que o fogo? A sensação de abandono que veio depois. As promessas de reassentamento que esfriaram mais rápido que as cinzas.

As famílias — umas 70, talvez menos agora — não querem piedade. Querem o básico: um teto, dignidade, o direito de não serem tratadas como problema urbanístico a ser removido.

O Longo (e Lento) Braço-de-Ferro com o Poder Público

A prefeitura, ah, a prefeitura… Diz que está trabalhando num plano. Que há um cadastro, que há um processo. Mas o tempo, para quem vive entre tijolos queimados e o medo de outro desabamento, é um luxo que não se tem.

O que se vê é uma espera que se arrasta, enquanto a especulação imobiliária — aquela velha conhecida do centro — esfrega as mãos. O terreno é valioso, demasiado valioso para abrigar apenas os sonhos dos que sempre estiveram ali.

Mais que Números, São Histórias

Não são "casos". São vidas. Gente que trabalha, que cria filhos, que ri e chora no meio daquela arquitetura acidentada. A comunidade virou um símbolo, quase sem querer. Um símbolo de uma luta urbana que é muito maior que ela própria.

Fala-se de reforma urbana, de direito à cidade, de função social da propriedade. São conceitos bonitos no papel. Na prática, na Moinho, é ver uma criança brincando longe do buraco no chão. É ver um idoso conseguir subir a escada sem se arriscar.

A resistência, por lá, não é slogan. É uma escada consertada com arame. É um fio de energia puxado com jeito. É a decisão coletiva de não ir embora.

E Agora, José?

O futuro é uma incógnita. A pressão aumenta, o centro "se valoriza", e a comunidade segue no limbo. A luta não é por um apartamento de luxo. É por não ser varrido para as franjas da cidade, longe do trabalho, da escola, da vida que se construiu.

O Moinho é um espelho. Reflete a cidade que somos e a cidade que queremos ser. Ignorar seu dilema é assinar um atestado de que o progresso só serve para alguns.