
Não é miragem — o céu de Rio Branco está mais pesado, e a culpa não é só do calor típico de julho. Enquanto as queimadas disparam na região, a qualidade do ar na capital acreana despenca, deixando os moradores entre tosses, olhos irritados e aquele mal-estar que parece grudar na garganta.
"Parece que alguém esqueceu um forno ligado", brinca o motorista de aplicativo Marcos Silva, 42 anos, enquanto limpa os vidros embaçados do carro. Só que a piada tem gosto amargo: os dados oficiais mostram que a concentração de poluentes já ultrapassou em 60% os níveis considerados seguros pela OMS.
O ar que (não) respiramos
Os números assustam:
- 27% de aumento nas queimadas em relação ao mesmo período de 2024
- Dias consecutivos com qualidade do ar classificada como "péssima"
- Hospitais registram 40% mais atendimentos por problemas respiratórios
E não adianta fugir para casa — especialistas alertam que o ar interno pode estar até 5 vezes pior que o externo quando as janelas ficam fechadas por muito tempo. "É um dilema: ou você abre e deixa a fumaça entrar, ou fecha e transforma sua casa numa garrafa de poluentes", explica a pneumologista Dra. Ana Beatriz Mourão.
Além da fumaça visível
O que pouca gente percebe? As partículas mais perigosas são justamente as que não vemos. Enquanto a fulgem escurece paredes e roupas no varal, os PM2.5 — minúsculos assassinos invisíveis — se infiltram direto na corrente sanguínea. "É como se cada respirada fosse uma microagressão ao corpo", compara o ambientalista Carlos Ribas.
Nas escolas, as aulas de educação física migraram para ambientes fechados. "Meus alunos estão jogando vôlei entre espirros", relata a professora de educação física Maria Lúcia Fernandes, enquanto distribui máscaras que mais parecem acessórios de filme distópico.
E o pior pode estar por vir: com a seca se intensificando e os ventos mudando de direção, especialistas preveem que agosto pode bater recordes históricos de poluição atmosférica na região. Enquanto isso, os moradores seguem entre um gole d'água e outro, torcendo pela chuva que teima em não chegar.