
Não era o que os frequentadores esperavam encontrar numa manhã de quarta-feira no tranquilo Parque da Aclimação. Logo cedo, quem passava pelo lago se deparou com uma cena desoladora: centenas de peixes boiando sem vida na superfície da água, um contraste gritante com a habitual serenidade do local.
O fato aconteceu após um temporal significativo que caiu sobre a capital paulista na terça-feira (24) — e cá entre nós, não foi qualquer chuva, foi daquelas que parecem querer lavar a cidade inteira. A enxurrada trouxe consigo muito mais do que água.
O que levou os peixes à morte?
Segundo a Subprefeitura da Sé, responsável pela administração do parque, a hipótese mais forte é a chamada anoxia, ou seja, falta de oxigênio na água. Parece simples, mas o processo é um pouco mais complexo. As fortes chuvas carregaram para o lago uma quantidade enorme de matéria orgânica — folhas, galhos, lixo, você name it. Ao se decomporem, esses materiais consomem o oxigênio dissolvido na água, que já era escasso.
É como se o lago, de repente, ficasse sem ar. Os peixes, literalmente, sufocam. Uma tragédia silenciosa que se desenrola abaixo da superfície.
Equipes da prefeitura já foram acionadas e trabalham para remover os animais mortos. É um trabalho minucioso e, imagino, bastante desagradável. Eles utilizam redes para recolher os peixes, que depois recebem uma destinação ambientalmente adequada. Nada daquilo de simplesmente jogar fora.
Não é a primeira vez
Quem frequenta o parque há anos sabe que essa não é uma cena inédita. Em agosto do ano passado, um cenário similar assustou a todos. À época, a Sabesp — companhia de saneamento do estado — chegou a ser acionada para investigar um possível lançamento de esgoto, mas os testes descartaram essa possibilidade. A causa, novamente, foi atribuída ao excesso de chuva e à consequente queda brusca nos níveis de oxigênio.
Isso nos leva a uma reflexão importante: será que nossos parques urbanos estão preparados para os extremos climáticos que têm se tornado cada vez mais comuns? É um questionamento que fica no ar, assim como o mau cheiro que insiste em permanecer perto do lago.
O Parque da Aclimação, um dos mais queridos da zona central de São Paulo, agora carrega mais uma marca de como eventos climáticos podem impactar drasticamente pequenos ecossistemas no meio da cidade. A lição que fica? Talvez a de que precisamos cuidar ainda mais desses refúgios verdes, porque a natureza, mesmo contida no concreto, é sensível aos nossos descuidos e às intempéries.