
Quem passa pela Lagoa Rodrigo de Freitas hoje até esquece o pesadelo que foi aquele verão. A água, que há poucos meses exalava um cheiro forte e era palco de uma triste cena de peixes mortos, agora parece respirar mais aliviada. A cor mudou, o odor amenizou – e, com isso, surgiu aquela pergunta que não quer calar na cabeça dos cariocas: será que dá pra voltar a mergulhar?
Pois é justamente esse debate que acaba de ser reacendido pelo comitê responsável por acompanhar a saúde da lagoa. A possibilidade de reabrir certas áreas para o banho, depois de um período de interdição por conta da contaminação, está oficialmente na pauta. Mas – e sempre tem um mas – os especialistas são unânimes em cravar: a festa do mergulho ainda não pode começar.
Um Longo Caminho até Aqui
A recuperação, convenhamos, não veio do nada. Foi um processo lento, quase uma convalescença, após a lagoa ter enfrentado uma crise severa ligada ao lançamento de esgoto não tratado. A mortandade em massa de peixes foi o sinal mais visível e dramático de que algo estava muito errado. A natureza, claro, deu seu recado.
O que se viu depois foi um trabalho – meio nas coxas, segundo alguns, mas um trabalho – para tentar reverter o quadro. E os resultados, ainda que preliminares, começam a aparecer. Dados de monitoramento indicam uma melhora significativa nos parâmetros de qualidade da água. A tal da transparência aumentou, e a concentração de coliformes fecais, aquele indicador que ninguém quer ver alto, deu uma boa baixada.
O "Calma, Gafanhoto" dos Cientistas
Agora, segura a onda. Apesar do cenário mais animador, o comitê gestor soltou um alerta importante. Eles explicam que a melhora recente é, em grande parte, sazonal. A estiagem dos últimos meses, com menos chuva para carrear poluentes para a lagoa, deu uma bela ajudinha. A verdadeira prova de fogo virá com o retorno do período chuvoso.
"Avaliar a liberação do banho agora é como dar o resultado de um paciente que ainda está no meio do tratamento", compara um técnico que prefere não se identificar. A opinião geral entre os especialistas é de que é preciso um período mais longo de monitoramento, cobrindo diferentes condições climáticas, para ter certeza de que a recuperação é estável e não apenas um espasmo de melhora.
- Monitoramento Contínuo: As análises da água seguem sendo feitas semanalmente em vários pontos.
- Indicadores-Chave: O foco está em oxigênio dissolvido, turbidez e, claro, a presença de bactérias.
- Infraestrutura: A discussão também envolve melhorias no saneamento do entorno para evitar novos colapsos.
No fim das contas, a mensagem é de esperança, mas com os pés no chão. A Lagoa dá sinais de que quer voltar à vida, e a comunidade, ansiosa por usufruir desse cartão-postal, pressiona. No entanto, a ciência pede paciência. A decisão final sobre quando (e se) o banho será liberado depende de dados concretos, e não apenas da vontade de dar um mergulho. A lagoa parece estar no caminho certo, mas ninguém quer correr o risco de voltar à estaca zero.