O governo brasileiro comemora um avanço significativo na criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre durante a COP30 em Belém. Em reunião de chefes de Estado realizada nesta quinta-feira (6), foram anunciados aportes que totalizam US$ 5,5 bilhões, com destaque para a contribuição norueguesa de US$ 3 bilhões.
Compromissos firmados e condições
Durante um almoço oferecido pelo presidente Lula, 13 países apresentaram suas posições sobre o fundo. A Noruega emergiu como o maior investidor até o momento, mas estabeleceu uma condição importante: só completará os US$ 3 bilhões prometidos quando o fundo atingir a marca de US$ 10 bilhões, limitando sua participação a 20% do total.
A França se comprometeu com US$ 550 milhões até 2027, enquanto a Indonésia também confirmou seu apoio financeiro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostrou-se otimista: "Falávamos que íamos trabalhar para chegar em US$ 10 bilhões até o final de 2026. Acho que vamos chegar antes disso, só o que foi anunciado aqui já passa de 50% dessa meta".
Expectativas e decepções
O Brasil ainda aguarda anúncios de outros países. A Alemanha deve revelar seu investimento nesta sexta-feira (7), quando seu chanceler, Friedrich Merz, falará na plenária de líderes da COP. China e Emirados Árabes Unidos reaffirmaram seu forte apoio ao fundo e prometeram anunciar recursos em breve.
Entretanto, houve decepções. O Reino Unido, que havia trabalhado com o Brasil na formatação do fundo, informou que não fará investimentos no momento. Após uma reunião bilateral com Lula, o primeiro-ministro Keir Starmer prometeu apenas "fazer propaganda" do fundo para investidores privados britânicos.
Canadá e Reino Unido alegaram necessidade de aprovação parlamentar para quaiscontribuições, um processo que pode ser mais demorado. Esta posição contrariou as expectativas do governo brasileiro, especialmente considerando o envolvimento britânico na concepção do fundo.
Estrutura e objetivos do fundo
O mecanismo financeiro inovador do TFFF conta com recursos de fundos soberanos para ancorar investimentos e atrair capital privado. A meta final é arrecadar US$ 25 bilhões em investimentos públicos para alavancar a entrada de investidores privados, elevando o total para US$ 125 bilhões.
De acordo com João Paulo de Resende, subsecretário de Assuntos Econômicos e Fiscais do Ministério da Fazenda, a expectativa é que o fundo alcance esse valor em três anos. Quando atingir US$ 10 bilhões, já poderá começar a operar e alavancar outros US$ 40 bilhões do setor privado.
O modelo prevê pagamentos de US$ 4 por hectare preservado quando o fundo estiver totalmente estruturado. Caso não atinja todos os recursos inicialmente planejados, o pagamento inicial poderá ser menor, dependendo do número de países receptores com planos de preservação em vigor.
Amplo apoio internacional
A declaração em favor do TFFF já teve adesão de 53 países, incluindo tanto doadores quanto nações com florestas tropicais que poderão receber recursos. Durante o encontro, Lula fez um apelo para que os países não negligenciem a questão climática em favor de gastos com defesa.
"Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global. Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente", alertou o presidente.
Nos últimos meses, Lula tem investido seu capital político para angariar apoio ao fundo, levando a proposta para praticamente todas as suas conversas internacionais. O mecanismo é visto como uma alternativa promissora ao modelo tradicional de doações, que frequentemente fica aquém das necessidades financeiras para combater as mudanças climáticas.