
Não é exagero — é matemática pura. O renomado cientista climático Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, crava com a convicção de quem já viu os dados cruéis: continuar queimando petróleo, carvão e gás natural equivale a assinar atestado de óbito do planeta. E não falamos de décadas distantes — o prazo vence ontem.
Em entrevista exclusiva, o pesquisador sueco — cujo sotaque carrega a urgência dos alertas que emite — dispara: "Temos tecnologia, temos alternativas. O que falta é coragem política para enfrentar as petroleiras". A fala ecoa como um soco no estômago de governos que ainda subsidiam combustíveis sujos.
Contagem regressiva já começou
Os números assustam mais que filme de terror:
- 1,5°C — limite máximo de aquecimento global antes do caos
- 80% — reservas fósseis que precisam ficar no subsolo
- 2030 — ano em que as emissões devem cair pela metade
Rockström não usa meias-palavras: "Quem diz que podemos 'reduzir gradualmente' ou 'compensar poluição' está vendendo ilusão perigosa". A analogia que ele faz dói — comparar dependência de fósseis com vício em heroína. Não existe dose segura.
Brasil na contramão
Enquanto Europa acelera transição energética, aqui aprovamos leis que incentivam termelétricas a carvão — sim, em pleno 2024. O cientista suspira ao comentar: "Seu país é paradoxo ambulante. Tem matriz limpa, mas insiste em retrocessos".
E os biocombustíveis? "Ótima ponte, mas não solução final", adverte. O cerne do problema, explica, está na cultura do consumo desenfreado — trocar gasolina por etanol de cana não resolve se continuarmos com cidades planejadas para carros.
O que fazer agora?
Rockström enumera ações imediatas com a precisão de cirurgião:
- Taxar pesadamente emissões de carbono
- Proibir novos projetos fósseis — ponto final
- Redirecionar trilhões em subsídios para solar e eólica
Mas atenção: "Tecnologia sozinha não salva ninguém", ressalva. Mudar hábitos — da dieta ao transporte — pesa tanto quanto painéis solares. E aqui, uma crítica afiada: "Classe média brasileira adora falar em sustentabilidade... até precisar abrir mão do SUV".
O tom muda quando fala de jovens ativistas. Os olhos brilham: "Eles entendem o que muitos líderes fingem não ver — isso é guerra existencial". Guerra que, segundo ele, já tem vítimas: comunidades pobres engolidas por secas e enchentes extremas.
Termina com alerta que arrepia: "Meu neto completará 30 anos em 2050. Que mundo lhe deixaremos?". Pergunta retórica? Não quando cientistas calculam respostas com supercomputadores — e os resultados gritam por ação radical.