
Em meio às cinzas do trágico incêndio que consumiu parte do Museu Nacional em 2018, um gigante de ferro sobreviveu: o meteorito Bendegó. Com mais de 5 toneladas e uma história que remonta ao século XVIII, essa rocha espacial não apenas resistiu ao fogo, mas também inspirou uma das mentes mais brilhantes da literatura brasileira.
Uma jornada épica do sertão ao Rio
Descoberto em 1784 no sertão da Bahia, o Bendegó enfrentou uma verdadeira odisseia para chegar ao Rio de Janeiro. A viagem durou meses, com direito a acidentes e peripécias dignas de romance. Tanto que Machado de Assis, em 1865, transformou essa epopeia em crônica para o Jornal das Famílias.
O acidente que virou literatura
Machado narrou com ironia característica o momento em que o meteorito caiu no rio durante o transporte: "Era uma pedra que vinha do céu, e o rio a recebia como a quem vem de longe". Essa crônica, pouco conhecida do grande público, revela como o fenômeno científico já despertava fascínio na sociedade imperial.
Símbolo de resistência
Quando as chamas consumiram o Museu Nacional em setembro de 2018, o Bendegó - já então uma das principais atrações do acervo - resistiu impassível. Sua composição metálica o protegeu, transformando-o em símbolo da resiliência do patrimônio científico brasileiro.
Um sobrevivente cósmico
Estudos indicam que o meteorito viajou pelo espaço por bilhões de anos antes de cair na Terra. Com 86% de ferro e 13% de níquel, sua resistência física parece espelhar sua trajetória histórica: sobreviveu à queda do espaço, ao transporte acidentado pelo sertão e ao incêndio que destruiu tantos outros tesouros.
Hoje, restaurado e em local de destaque no museu reconstruído, o Bendegó continua a contar sua história dupla: como fenômeno astronômico e como testemunha silenciosa da história cultural do Brasil.