
Era uma tarde cinzenta quando o silêncio do Rio Verde, em Mato Grosso do Sul, foi quebrado por vozes abaladas. Três dias de angústia, buscas incansáveis e noites sem dormir culminaram na descoberta mais temida: o corpo do jovem Lucas Mendes, de apenas 19 anos, foi encontrado boiando próximo à margem.
— Parecia que o rio devolvia o que havia levado — comentou um dos bombeiros, visivelmente emocionado, enquanto recolhia equipamentos. A cena? Dolorosamente comum em um estado onde rios traiçoeiros escondem perigos sob águas aparentemente calmas.
Do desaparecimento ao desfecho trágico
Tudo começou naquela sexta-feira (25/07). Lucas saiu para pescar com amigos — atividade rotineira na região — e simplesmente... sumiu. "Ele tava rindo, brincando como sempre", lembra Rafael, um dos companheiros que presenciou o momento em que as brincadeiras na água tomaram um rumo fatal.
- 14h30: Grupo chega ao ponto habitual de pesca
- 15h45: Lucas entra na água para "pegar um mergulho rápido"
- 16h02: Amigos percebem sua ausência
Não houve grito. Nem agitação na superfície. Apenas aquele vazio que fez corações acelerarem. "A correnteza aqui é traiçoeira quando chove a montante", explica o pescador João da Silva, que participou das buscas voluntárias. E choveu — e como choveu! — nos dias anteriores.
Operação de resgate: 72 horas de esperança e desespero
Equipes do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental e moradores locais vasculharam cada curva do rio. Drones sobrevoaram a área. Mergulhadores desceram nas partes mais profundas. Até cães farejadores foram acionados. Mas o Rio Verde, esse velho conhecido dos ribeirinhos, guardou seu segredo até a manhã desta segunda-feira (28/07).
— Encontramos ele a cerca de 2 km do local onde desapareceu — relatou o tenente Carlos Albuquerque, coordenador da operação. — Tudo indica afogamento acidental, mas o IML confirmará as causas.
Enquanto isso, na casa simples da família Mendes, o cheiro de café requentado se misturava ao silêncio pesado. "Meu filho sabia nadar desde os 5 anos", dizia a mãe, Dona Maria, entre soluços. Uma dessas frases que cortam a alma — porque até os melhores nadadores podem ser vencidos por correntezas inesperadas.
Alerta para banhistas: quando o lazer vira risco
O caso reacendeu o debate sobre segurança em áreas ribeirinhas. Só neste ano, já são 7 afogamentos registrados em rios de MS — número que preocupa autoridades. "Temos placas de alerta, mas a galera acha que nunca vai acontecer com eles", desabafa o salva-vidas Marcos Andrade.
Eis o que especialistas recomendam:
- Evitar áreas desconhecidas após chuvas
- Nunca nadar sozinho
- Ficar atento a mudanças bruscas na correnteza
- Usar colete salva-vidas em águas turbulentas
Enquanto a comunidade se reunia para velar Lucas, o Rio Verde seguia seu curso — indiferente à dor que deixara em sua margem. Uma daquelas histórias que nos lembra: a natureza não negocia. E alguns erros, infelizmente, não têm segunda chance.