
Era um dia como qualquer outro na Estrutural — o sol escaldante, o cheiro pesado no ar, o vai e vem de caminhões. Até que, por volta das 10h da manhã dessa sexta-feira (19), o cotidiano virou pesadelo. Matheus (nome fictício), um rapaz de apenas 21 anos, perdeu a vida enquanto cumpria sua jornada no aterro sanitário. O local, conhecido por ser o maior da América Latina, agora é palco de mais uma tragédia anunciada.
Segundo colegas — que preferiram não se identificar, claro —, o jovem operário estaria manuseando maquinário pesado quando algo deu errado. "A gente ouviu um barulho seco, diferente. Quando corremos, já era tarde", contou um deles, com a voz embargada. A perícia ainda investiga os detalhes, mas tudo indica que houve falha nos equipamentos de segurança.
O lado humano da tragédia
Na casa simples da família, no Recanto das Emas, o chão parece ter sumido. A mãe, dona Maria, alterna entre silêncios profundos e crises de choro. "Ele era meu filho mais novo, tava começando a vida... Como pode?". O irmão mais velho, desempregado, não esconde a revolta: "Isso aqui é matança, não é trabalho".
E não é pra menos. Só nos últimos três anos, pelo menos 14 acidentes graves foram registrados no local. Alguns, diga-se, com vítimas fatais. O Ministério Público do Trabalho já abriu procedimento — como sempre faz depois dessas tragédias — mas os problemas persistem feito sombra.
Condições que assustam
Quem já pisou no aterro sabe: o lugar é um inferno à céu aberto. Lixo até onde a vista alcança, chorume escorrendo, equipamentos velhos... Um ex-funcionário, que pediu pra não ter o nome revelado, soltou o verbo: "Lá é terra sem lei. Se reclamar, é rua. E tem fila de gente desesperada pra entrar no seu lugar".
Pior? A empresa responsável pela gestão do aterro — aquela mesma que fatura milhões — sequer se pronunciou sobre o caso. Enquanto isso, no grupo de WhatsApp dos trabalhadores, rolam mensagens de dor e medo. "Amanhã pode ser qualquer um de nós", escreveu alguém. E não é que tem razão?
Agora, a pergunta que não quer calar: até quando vidas serão trocadas por lucro? No DF, a conta já está alta demais.