
Ela mal completara 23 anos quando a vida decidiu pregar-lhe uma daquelas peças que ninguém está preparado para encarar. Lidiane Oliveira — moça de sorriso fácil que agora aprende a conviver com sua ausência — me contou, com a voz embargada mas firme, sobre o dia em que tudo desmorou.
«A gente tava voltando tão feliz, sabe?» — ela suspira, como se ainda não conseguisse acreditar. «Cinco dias de pura felicidade na praia, e de repente...»
Era 4 de outubro, uma sexta-feira aparentemente comum. O casal seguia pela Rodovia Candido Portinari, na altura de Jardinópolis, interior de São Paulo. De repente — essas coisas sempre acontecem de repente, não é mesmo? — o carro em que estavam colidiu frontalmente com outro veículo.
O Amor Que Mal Começou
Lidiane e Jean — sim, Jean, nome que ela agora pronuncia com um misto de carinho e dor — estavam casados havia menos de um mês. Tudo ainda cheirava a novo: as alianças, os planos, os sonhos.
«A gente se conhecia desde a escola», ela lembra, e dá pra ouvir na voz dela aquela nostalgia que só quem perdeu algo precioso consegue transmitir. «Crescemos juntos, praticamente.»
Os Segundos Que Mudaram Tudo
O acidente — terrível, brutal — levou Jean instantaneamente. Lidiane, milagrosamente, sobreviveu com ferimentos leves. Ironia do destino, não? A vida poupa quem talvez, naquele momento, preferisse seguir junto.
«Eu não me lembro de quase nada», confessa. «Só acordei no hospital, e então... então me contaram.»
A Longa Estrada da Dor
O que se segue depois de uma tragédia dessas? Papéis, burocracia, velório — tudo embaçado por lágrimas que parecem não ter fim.
«As pessoas falam 'o tempo cura tudo'», ela reflete, com uma sabedoria que nenhuma jovem de 23 anos deveria precisar ter. «Mas acho que não cura — só vai amenizando, sabe? Vai ficando mais suportável.»
E faz uma pausa significativa antes de completar: «A dor vai aprendendo a conviver com a gente.»
O Futuro Que Era Para Ser Deles
Jean trabalhava com manutenção industrial — profissão estável, que garantia o sustento do casal. Tinham planos: uma casa própria, quem sabe filhos daqui a alguns anos.
«A gente até brincava sobre como seriam nossos filhos», ela compartilha, num momento de rara leveza. «Ele quia um menino, eu queria uma menina.»
Agora, esses planos precisam ser refeitos — refeitos sozinhos.
O Consolo (Ou a Falta Dele)
Lidiane recebe alta médica, mas a alta emocional — essa vai demorar muito mais. A família tenta apoiar, os amigos se revezam, mas no final das contas é uma jornada solitária.
«Cada dia é diferente», ela descreve. «Tem dias que eu acordo e consigo lembrar dele sem chorar. Outros... outros são mais difíceis.»
E finaliza com uma frase que ecoa na mente: «Só o tempo, mesmo. Só o tempo pra gente aprender a carregar esse peso.»