Mentira de Rachel Reeves: 68% dos britânicos acusam chanceler de fake news
Rachel Reeves e a mentira do 'rombo' de 20 bilhões de libras

A ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, mergulhou em uma crise de credibilidade após ser flagrada disseminando informações falsas sobre as contas públicas do país. A chanceler do Exchequer, como é formalmente conhecida, tentou justificar um aumento de impostos com base em um suposto 'rombo' de 20 bilhões de libras esterlinas nas finanças nacionais. O valor, que equivale a cerca de sete vezes mais em reais, foi rapidamente desmentido por dados oficiais que, na verdade, apontavam para um superávit.

A estratégia falha e a reação pública

Reeves, que integra o governo do primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer, alegou que o colossal déficit herdado dos conservadores exigia medidas duras. No entanto, a justificativa desmoronou quando ficou comprovado que não havia tal buraco negro nas contas. Para piorar sua situação, gravações de seu passado recente foram ao ar, mostrando-a endossar a proposta do Partido Trabalhista de não aumentar a já pesada carga tributária britânica.

As reações foram imediatas e devastadoras. Uma pesquisa de opinião indicou que 68% da população britânica acredita que a ministra mentiu deliberadamente. A justificativa de que o aumento de impostos salvaria 'as criancinhas' foi recebida com ceticismo, com a percepção pública sendo a de que o dinheiro extra, na prática, beneficiaria quem vive de auxílios estatais.

Fake news e o fantasma de Churchill

O episódio trouxe à tona a velha máxima política sobre a verdade. O ex-premiê Winston Churchill, que também foi chanceler do Exchequer entre 1924 e 1929, certa vez brilhou ao definir mentiras como 'inexatidão terminológica'. Ele também disse que 'numa guerra, a verdade é tão preciosa que precisa sempre ser atendida por um corpo de guarda-costas de mentiras'. A frase parece ressoar no atual cenário, onde políticos profissionais muitas vezes se veem em uma guerra permanente pela opinião pública.

Curiosamente, um dos primeiros atos de Rachel Reeves ao assumir o cargo foi mandar retirar a foto de Winston Churchill de sua sala, substituindo-a por uma tapeçaria que retrata uma figura feminina, em linha com sua política de decorar o ambiente apenas com obras de ou sobre mulheres.

Consequências e o futuro político

A tentativa de controle de danos incluiu até uma tentativa de 'makeover' de imagem da ministra, com roupas mais elegantes e mudanças no visual, o que foi criticado como mais uma camada de artificialidade. O desgaste ocorre em um momento delicado. Keir Starmer foi eleito após uma sequência de primeiros-ministros conservadores problemáticos: Boris Johnson, acusado de má gestão pandêmica, e Rishi Sunak, envolvido em polêmicas sobre a situação fiscal de sua esposa milionária.

Contudo, o passado parece não garantir um futuro tranquilo. As projeções indicam uma virada radical: os conservadores podem ser varridos do mapa na próxima eleição, e os trabalhistas, o partido de Reeves e Starmer, ficariam em um distante segundo lugar. A surpreendente liderança nas pesquisas está com a direita liderada por Nigel Farage, cujas pequenas mentiras, por enquanto, estão sendo ignoradas pelo eleitorado.

O caso, publicado originalmente na revista Veja em 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973, ilustra como a verdade permanece um bem frágil no jogo político, e como sua violação pode ter custos altíssimos, mesmo para aqueles que julgam ter domínio absoluto sobre a narrativa.