Michelle Bolsonaro critica aliança do PL com Ciro Gomes e causa racha na direita cearense
Michelle Bolsonaro causa racha na direita cearense

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) protagonizou um evento político que expôs uma profunda divisão no interior da direita cearense e no partido de seu marido. Durante o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo do Ceará, realizado em Fortaleza no domingo, 30 de novembro de 2025, ela fez duras críticas à articulação de uma aliança entre o PL e o ex-governador Ciro Gomes (PSDB).

Discurso de Michelle contra aliança com Ciro Gomes

Em seu discurso, Michelle Bolsonaro foi direta ao rejeitar qualquer aproximação com Ciro Gomes, citando as críticas que ele fez a Jair Bolsonaro no passado. “Adoro o André, passei em muitos estados falando sobre o orgulho que tenho dele... Mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá”, afirmou, dirigindo-se ao deputado federal André Fernandes (PL-CE), que estava presente e é um dos articuladores do acordo com Ciro.

Michelle defendeu a candidatura de Eduardo Girão, chamando-a de “improvável”, mas traçando um paralelo com outras vitórias consideradas surpreendentes, como a do próprio ex-presidente. “Nós vamos nos levantar e vamos trabalhar para eleger o Girão”, declarou, sinalizando apoio total ao senador e rejeitando qualquer pacificação com Ciro Gomes.

Resposta de André Fernandes e a versão sobre Bolsonaro

Após o evento, o deputado André Fernandes rebateu publicamente as afirmações de Michelle. Ele apresentou uma versão completamente diferente, alegando que a aproximação com Ciro Gomes teria sido autorizada pelo próprio Jair Bolsonaro. “O próprio, no dia 29 de maio, pediu para a gente ligar para Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que nós apoiaríamos Ciro Gomes. Foi o presidente Bolsonaro”, disse Fernandes.

O parlamentar ainda afirmou que o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, também apoiaram a estratégia naquele momento. Segundo ele, a ideia era que André Fernandes fosse o “escudo” político do movimento, poupando Bolsonaro de um desgaste direto. “A gente precisa de um grande candidato, de peso em todos os estados do Nordeste para apoiar Bolsonaro ou seu sucessor e derrotar o PT”, justificou.

Consequências políticas e disputa familiar

A posição pública de Michelle Bolsonaro, que contradiz a versão apresentada por André Fernandes sobre os planos de Jair Bolsonaro, cria um cenário de racha explícito na direita cearense. Agora, Eduardo Girão e Ciro Gomes aparecem como projetos antagônicos, disputando um mesmo eleitorado conservador. Analistas políticos avaliam que essa divisão é a pior possibilidade eleitoral para a oposição ao PT no estado, pois pode fragmentar os votos e beneficiar diretamente o governador petista Elmano de Freitas, que busca a reeleição em 2026.

Além do impacto estadual, o episódio joga luz sobre a disputa pelo espólio político de Jair Bolsonaro. Com o ex-presidente cumprindo pena de 27 anos e três meses de prisão, sua influência depende da intermediação da família. A atitude independente de Michelle, sem aparente conciliação prévia com os enteados Carlos e Flávio Bolsonaro, demonstra que ela está assumindo um papel ativo e assertivo na definição dos rumos políticos do bolsonarismo.

Vale ressaltar que a candidatura de Ciro Gomes ao governo do Ceará ainda não está formalizada. O ex-ministro tem evitado declarações definitivas e focado suas críticas no PT. Sua trajetória e reconhecimento no Nordeste também o mantêm como um nome cogitado para compor chapas nacionais de direita, seja como candidato principal ou vice.

O evento em Fortaleza, portanto, foi muito mais do que um lançamento de pré-campanha. Ele serviu como palco para expor as fissuras internas do principal partido de oposição no país e a complexa dinâmica familiar que cerca a liderança de Jair Bolsonaro, definindo um novo capítulo conturbado na corrida eleitoral de 2026.