Lula busca Trump para combater crime organizado e recuperar apoio em segurança
Lula recorre a Trump em parceria contra crime organizado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu a uma conversa com o ex-presidente americano Donald Trump para tentar demonstrar ação em uma área sensível: a segurança pública. A medida ocorre em um momento em que o tema retornou ao centro do debate político, pressionando a popularidade do governo.

Pressão política e queda nas pesquisas

A trajetória de recuperação de popularidade de Lula, que vinha abrindo vantagem nas pesquisas para a próxima corrida presidencial, sofreu um revés. O gatilho foi uma operação policial deflagrada no Rio de Janeiro para combater o Comando Vermelho. Ordenada pelo governador Cláudio Castro (PL), aliado de Jair Bolsonaro, a ação reanimou os presidenciáveis da direita e devolveu o tema da segurança ao noticiário.

O desgaste se refletiu em números. Na pesquisa AtlasIntel divulgada na terça-feira, 2 de dezembro de 2025, a desaprovação ao governo subiu para 50,7%, ante 48,1% em outubro. O levantamento também mostrou um estreitamento da vantagem de Lula sobre rivais oposicionistas em simulações de segundo turno.

Estratégia de Lula para mostrar serviço

Historicamente, Lula e o PT têm enfrentado dificuldades para apresentar um discurso e um programa consolidado para a segurança pública. Com o tema em evidência, o presidente adotou uma série de medidas para tentar reverter a percepção negativa.

Ele apresentou um projeto para combater facções criminosas, destacou nas redes sociais operações contra o PCC com a participação da Polícia Federal e da Receita Federal, e defendeu a votação da PEC da Segurança no Congresso. Como essas iniciativas ainda não surtiram o efeito esperado, Lula partiu para um gesto mais ousado.

Em uma nova conversa telefônica com Donald Trump, o presidente brasileiro defendeu a "urgência" na cooperação bilateral para combater o crime organizado internacional. O fato foi relatado pelo próprio Lula em sua conta no Instagram, onde tem mais de 14 milhões de seguidores.

Mudança na relação com Trump e críticas internas

A relação entre Lula e Trump, que já foi bastante conturbada, mudou significativamente após um encontro pessoal nos corredores da ONU, onde, segundo ambos, houve uma "química imediata". Desde então, avanços foram registrados, como a redução do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos.

No entanto, o plano do governo para a segurança pública enfrenta resistência até mesmo em suas próprias bases. Internamente, petistas contestam as medidas. Publicamente, potenciais aliados também criticam. O vice-prefeito do Rio, Eduardo Cavaliere (PSD), chamou o discurso de Lula na segurança de "lero-lero" e disse não haver alinhamento automático com o presidente na próxima eleição.

As declarações de Cavaliere, braço direito do candidato ao governo do Rio Eduardo Paes – que Lula pretende apoiar –, geraram mal-estar. A situação levou José Dirceu a insinuar que o PT poderia lançar candidato próprio ao governo do Rio, uma hipótese prontamente negada pelo presidente do partido, Edinho Silva.

Edinho, escalado por ser da confiança de Lula, tentou acalmar os ânimos e reforçou a promessa do governo de priorizar a segurança, citando a operação Carbono Oculto contra o PCC como exemplo de ação para asfixiar financeiramente o crime. Em meio às dificuldades, a aproximação com Trump surge como uma cartada do presidente para tentar ganhar fôlego em um tema que define eleições.