Irmãos Bolsonaro criticam Michelle por divergência pública sobre aliança no Ceará
Irmãos Bolsonaro criticam Michelle por atitude no Ceará

Uma rara divergência pública no núcleo familiar do ex-presidente Jair Bolsonaro ganhou os holofotes nesta segunda-feira, 1º de dezembro de 2025. Os três filhos homens do ex-mandatário – Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro – se uniram para criticar a atitude da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em relação a uma aliança política no Ceará.

Críticas em uníssono dos filhos de Bolsonaro

O estopim do conflito foi um discurso de Michelle, realizado no domingo, 30 de novembro, durante o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará. Na ocasião, ela endossou a candidatura de Girão e criticou abertamente a articulação do Partido Liberal (PL) no estado, que busca uma aliança com o ex-ministro Ciro Gomes, filiado ao PSDB.

A declaração de Michelle foi direcionada ao deputado federal André Fernandes (PL-CE), que estava presente no evento e é um dos articuladores do acordo. "Adoro o André, passei em muitos estados falando sobre o orgulho que tenho dele […] mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá", afirmou a ex-primeira-dama.

Resposta dos irmãos em defesa da hierarquia partidária

A reação dos filhos de Bolsonaro foi rápida e coordenada. O senador Flávio Bolsonaro foi o primeiro a se manifestar, em entrevista ao jornal O Povo. Ele afirmou que Michelle "atropelou" o ex-presidente ao repreender publicamente o deputado André Fernandes. Para Flávio, a articulação com Ciro Gomes é uma estratégia para derrotar o PT do atual governador, Elmano de Freitas.

O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, deu apoio público ao irmão mais velho. Ele republicou o título da matéria sobre as declarações de Flávio em suas redes sociais e escreveu: "Meu irmão Flávio está certo, temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças".

Completando o trio, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que está em autoexílio nos Estados Unidos, engrossou o coro. Ele republicou o post de Carlos e qualificou a atitude de Michelle como "injusta e desrespeitosa". Em sua publicação no X (antigo Twitter), Eduardo foi enfático: "Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder".

O pano de fundo da disputa no Ceará

A polêmica expõe uma disputa interna pelo espólio político e eleitoral de Jair Bolsonaro, que começou a cumprir pena de 27 anos de prisão na semana passada, condenado por tentativa de golpe de Estado, e ainda não apontou um sucessor político claro.

No cenário cearense, o PL pretende apoiar uma candidatura de Ciro Gomes ao governo do estado. Em contrapartida, o ex-ministro daria suporte a Alcides Fernandes, pai do deputado André Fernandes, para uma vaga no Senado. Entretanto, Ciro Gomes ainda não confirmou seus planos para 2026, mantendo em aberto a possibilidade de uma candidatura nacional própria ou como vice em uma chapa de direita.

André Fernandes, alvo das críticas de Michelle, rebateu as acusações após o evento. Ele justificou a articulação lembrando que o próprio ex-presidente Bolsonaro, em 29 de maio, pediu para que ligassem para Ciro Gomes no viva-voz e acertou o apoio. "Foi o presidente Bolsonaro", afirmou o deputado, defendendo que estava apenas seguindo orientações diretas.

Este episódio público de desavença marca mais um capítulo da reconfiguração das forças bolsonaristas na ausência do seu principal líder, evidenciando as tensões e os diferentes projetos em jogo para as eleições de 2026.