ONU alerta: IA pode ampliar desigualdade global e afetar 1,2 bilhão de usuários
ONU: IA pode aprofundar desigualdade entre países ricos e pobres

Um novo relatório das Nações Unidas lançou um alerta contundente sobre os riscos da inteligência artificial para o equilíbrio global. O documento, divulgado nesta terça-feira, 2 de dezembro de 2025, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), indica que a tecnologia pode se tornar um motor de aumento da desigualdade entre nações ricas e pobres, revertendo décadas de progresso.

Uma nova era de divergência econômica

O economista-chefe do Escritório Regional do PNUD na Ásia-Pacífico, Philip Schellekens, foi enfático durante uma coletiva de imprensa em Genebra. “Acreditamos que a IA está anunciando uma era de crescente desigualdade entre os países, após anos de convergência nos últimos 50 anos”, declarou. O relatório, intitulado “A próxima grande divergência: por que a IA pode ampliar a desigualdade entre os países”, aponta que o comércio e a tecnologia foram responsáveis por reduzir disparidades nas últimas décadas, mas esse cenário pode mudar radicalmente.

O documento detalha que a adoção desigual das ferramentas de IA pode acelerar uma segregação tecnológica e econômica. Países em posição desfavorável ficariam expostos a uma série de problemas, como perda massiva de empregos, exclusão do ecossistema de dados, disseminação de desinformação e pressão sobre recursos naturais devido à alta demanda por água e energia dos data centers necessários para a tecnologia.

Impactos globais e alertas para nações ricas

Os efeitos negativos não se limitariam aos países em desenvolvimento. Schellekens advertiu que, se os ganhos de convergência forem perdidos, até mesmo as nações mais ricas sofrerão consequências. “Se a desigualdade continuar a aumentar, os efeitos colaterais disso em termos de segurança, em termos de imigração ilegal, também se tornarão mais preocupantes”, afirmou o economista. A mensagem é clara: em um mundo interconectado, o aumento do abismo tecnológico gera instabilidade que transcende fronteiras.

Os dados apresentados pelo PNUD ilustram a dimensão do fenômeno. Nos últimos três anos, a inteligência artificial atingiu a marca de 1,2 bilhão de usuários em todo o mundo. Um dado paradoxal chama a atenção: cerca de 70% desses usuários vivem em países em desenvolvimento. No entanto, a penetração da tecnologia é profundamente desigual. Enquanto em muitas economias de alta renda duas em cada três pessoas utilizam ferramentas de IA, nos países de baixa renda esse índice despenca para apenas 5% da população.

Caminhos para um futuro mais inclusivo

Diante desse cenário preocupante, o PNUD não se limita a diagnosticar o problema, mas também aponta soluções. O órgão faz um apelo direto a governos e empresas para que tomem medidas concretas. A recomendação central é o investimento em computação sustentável e o desenvolvimento de estratégias de IA inclusivas, que estejam alinhadas com a capacidade nacional de cada país.

O relatório enfatiza que a cooperação internacional é um pilar fundamental. “A cooperação regional e global será essencial para que a IA funcione como um bem público partilhado, em vez de uma vantagem concentrada”, destaca o documento. A visão é de que a tecnologia deve ser democratizada e seu acesso, ampliado, para evitar que se torne mais um fator de divisão em um mundo já marcado por profundas assimetrias.

O chamado da ONU é urgente. Sem políticas deliberadas para guiar seu desenvolvimento e disseminação, a inteligência artificial, em vez de ser uma força para o progresso coletivo, corre o risco de cavar um abismo ainda mais profundo entre os que têm e os que não têm acesso ao futuro.