Sonhar em ser astronauta é comum na infância, mas realizar esse desejo profissional está entre os objetivos mais difíceis de alcançar. Foi exatamente essa dificuldade que inspirou a criação do programa Asclepios, uma iniciativa internacional liderada por estudantes que oferece treinamento espacial simulado de forma gratuita.
Do sonho à realidade: o caminho para o espaço
A estudante americana Katie Mulry, de 24 anos, sempre soube que queria ser astronauta, mas não encontrava um caminho claro para realizar seu sonho. Cursando mestrado em engenharia aeroespacial no Instituto Superior de Aeronáutica e Espaço na França, ela descobriu no programa Asclepios a oportunidade que procurava.
Mulry participou da segunda missão do projeto em 2021-2022 como "aprendiz de astronauta" e, desde 2024, ajuda a organizar a Asclepios 5. "A questão é entender estes desafios e conseguir estudá-los aqui na Terra, para que, quando as pessoas forem ao espaço, as agências espaciais estejam mais preparadas para ajudar os astronautas", explica a estudante.
Base lunar nos Alpes Suíços
A quinta missão do projeto ocorreu entre julho e agosto deste ano na antiga fortaleza militar ultrassecreta de Gotthard, na Suíça. Nove estudantes internacionais passaram mais de duas semanas isolados em túneis de 3,5 km escavados na montanha, mantidos a 6°C durante todo o ano, a 2 mil metros de altitude.
O local foi escolhido intencionalmente por suas características similares aos túneis de lava lunares. Durante a missão, os participantes evitaram completamente a luz solar, simulando as condições do polo sul da Lua. As caminhadas lunares foram realizadas exclusivamente à noite.
O brasileiro Mateus de Magalhães, de 27 anos, estudante de PhD em engenharia aeroespacial, atuou como capitão da missão. "Existem outras simulações da Lua e de Marte, mas a maioria é paga e o custo é muito alto. Por isso, nem sempre é viável para os estudantes", destaca Magalhães.
Pesquisas científicas em ambiente extremo
Um dos experimentos mais importantes da missão foi o Kronoespazio, que estuda os efeitos da escuridão constante nos ritmos circadianos, qualidade do sono, humor e saúde geral. A pesquisa é coordenada pela especialista em cronobiologia Maria Comas Soberats, do Hospital Universitário Vitoria-Gasteiz, na Espanha.
Os participantes utilizaram dispositivos no pulso para monitorar o sono e a temperatura corporal, além de forneceram amostras regulares para análise dos níveis de melatonina e expressão genética circadiana. Os resultados serão publicados em revistas científicas e podem beneficiar não apenas futuros astronautas, mas também trabalhadores noturnos e pessoas em ambientes extremos na Terra.
Lauren Victoria Paulson, engenheira-chefe da missão, ressalta a importância da eficiência nos projetos espaciais: "Quando projetamos para o espaço, podemos adaptar essas tecnologias para pessoas que moram em ambientes de frio extremo, desertos e regiões com muito pouca água".
O programa Asclepios reúne participantes de 60 países e reproduz os processos de treinamento da NASA e da Agência Espacial Europeia. A iniciativa sem fins lucrativos depende inteiramente de doações, crowdfunding e patrocínios, mantendo os estudantes ocupados o ano inteiro na organização das missões que podem, um dia, ajudar a levar humanos de volta à Lua e além.