Um vazamento de código ocorrido no último sábado, 28 de setembro, revelou que a OpenAI já está desenvolvendo uma ferramenta de propaganda para integrar ao seu popular chatbot, o ChatGPT. As informações, descobertas por um engenheiro de software, apontam para os primeiros passos concretos da startup na venda de espaços publicitários dentro de sua plataforma.
Os detalhes do vazamento e a estrutura de anúncios
Os indícios foram encontrados por Tibor Blaho, engenheiro-chefe de um programa que otimiza o uso do ChatGPT e do concorrente Claude. Ao analisar a versão beta mais recente do aplicativo para Android e compará-la com a anterior, Blaho identificou novas linhas de código no script que não existiam previamente.
Entre os termos encontrados estavam "recurso de anúncios", "conteúdo do bazar", "anúncio de pesquisa" e "carrossel de anúncios para busca". Ele divulgou a descoberta em uma publicação na rede social X, antigo Twitter. Esses trechos representam a estrutura básica necessária para implementar um sistema de direcionamento de anúncios, com foco aparente no mecanismo de busca, em um modelo de negócios que lembra o do Google.
A busca por receita e o alto custo da nuvem
A movimentação da OpenAI em direção à publicidade não é por acaso. A startup de inteligência artificial, hoje a mais valiosa do mundo com um valor de mercado estimado em US$ 500 bilhões, busca novas fontes de receita para sustentar seus enormes investimentos. O principal custo vem da contratação de serviços de computação em nuvem, essenciais para o desenvolvimento e funcionamento de suas IAs.
Um relatório do banco britânico HSBC traz um panorama desafiador: mesmo que a OpenAI multiplique sua base de assinantes do serviço premium ChatGPT Plus e tenha sucesso na venda de anúncios, a empresa precisará de cerca de US$ 207 bilhões até 2030 apenas para honrar seus atuais contratos com provedores de computação avançada.
O braço comercial e a influência da Meta
A OpenAI possui um departamento dedicado a desenvolver produtos lucrativos desde 2022, liderado pelo executivo Nick Turley, contratado da Dropbox. Esse time tem sido responsável por uma série de lançamentos recentes, como o navegador Atlas, os bate-papos em grupo no ChatGPT e a rede social de vídeos gerados por IA, Sora, lançada em setembro.
Segundo uma reportagem do New York Times, foi também essa equipe que trabalhou para tornar o ChatGPT mais popular e "bajulador". Para fortalecer sua expertise em monetização, a OpenAI recrutou pesadamente da Meta, conglomerado dono de Instagram, Facebook e WhatsApp e um império da publicidade digital. Um levantamento do site The Information mostra que, hoje, 30% dos 3.000 funcionários da OpenAI são ex-funcionários da Meta, o que equivale a cerca de 630 pessoas.
Personalização, privacidade e a mudança de discurso
Internamente, a empresa discute a possibilidade de usar o próprio mecanismo de personalização do ChatGPT para direcionar anúncios. Essa é a ferramenta que permite ao chatbot lembrar conversas anteriores e ajustar seu tom conforme o usuário. No entanto, a ativação dos recursos de privacidade já compromete o funcionamento dessa memória, levantando questões sobre como o direcionamento funcionaria na prática.
Enquanto os funcionários debatem a implementação, o CEO da OpenAI, Sam Altman, vem ajustando publicamente seu discurso sobre publicidade. No início do ano, ele classificou os anúncios como um "último recurso" e algo "singularmente perturbador". Em uma entrevista a um podcast especializado no mês passado, sua posição já havia se suavizado: Altman afirmou que considera os anúncios "um pouco desagradáveis", mas que não são mais descartáveis.
Procurada pela reportagem por meio de sua assessoria de imprensa, a OpenAI respondeu, mas não detalhou publicamente seus planos comerciais.