Quatro anos após o leilão das frequências, a rede de internet móvel 5G já está disponível para a maior parte da população brasileira, mas o número de usuários que efetivamente a utilizam ainda é uma fração do total. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) revelam um cenário de infraestrutura avançada, porém com barreiras no acesso do consumidor final.
Infraestrutura em ritmo acelerado, adoção em passo lento
Ao final de novembro de 2025, a conexão 5G, que pode ser até dez vezes mais rápida que a geração anterior, alcançava 64% da população brasileira. Este índice supera a meta original, que era de disponibilidade para 57% das pessoas apenas em 2027. A cobertura física já atinge mais de 2.000 municípios em todo o país.
Contudo, do outro lado da equação, a parcela de brasileiros conectados a essa rede rápida é significativamente menor. Apenas cerca de 20% das linhas de telefonia móvel têm acesso ao 5G. Em números absolutos, são aproximadamente 55,1 milhões de pontos de acesso entre os 270,1 milhões totais.
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, aponta o preço como o principal obstáculo. "As pessoas continuam comprando aparelhos limitados ao 4G por causa do preço menor", afirma. Ele destaca que esse é um tema em discussão com o Ministério das Comunicações, com foco em como promover a redução dos custos do celular 5G no Brasil.
O modelo que acelerou a implantação da rede
O rápido avanço da infraestrutura é creditado ao desenho inovador do leilão de radiofrequências, ocorrido há quatro anos. A Anatel optou por um modelo não-arrecadatório, onde as empresas pagaram pelos lotes com investimento em construção de rede, e não com dinheiro direto ao Tesouro Nacional.
"Isso permitiu que o regulador impusesse obrigações muito agressivas de investimento em infraestrutura", explica Baigorri. A competitividade do mercado também foi um motor, com as grandes operadoras iniciando uma corrida por mais cobertura e ofertas 5G para atrair clientes.
Outro fator crucial foi a liberação antecipada da faixa de 3,5 gigahertz, antes usada para transmissão de TV via satélite e hoje essencial para o 5G standalone (uma versão ainda mais rápida), conforme explica Eduardo Grizendi, diretor de engenharia da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
Novos players e aplicações além do consumo
O leilão também fomentou a concorrência ao abrir caminho para a entrada de novas operadoras no serviço móvel, através da venda de lotes regionais. Provedores de fibra ótica como Brisanet, Unifique e Copel Telecom ingressaram no mercado. Para apoiá-las, a Anatel estabeleceu um esquema de transição até 2030, onde as grandes operadoras devem compartilhar suas torres com as novas empresas.
A expansão do 5G vai além do uso pessoal. "O aumento da diversidade das aplicações também contribuiu, em especial o uso no agronegócio e a implantação de redes privativas pela indústria", complementa Grizendi.
Em nota, o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, classificou a implementação do 5G no Brasil, que começou em 2022, como uma das mais rápidas do mundo. Ele atribui o avanço a uma política pública planejada e afirmou que "as empresas entendem que o Brasil é um país atrativo para investimentos e com uma economia digital crescente".
Enquanto isso, a base de aparelhos no país ainda é um mosaico de tecnologias, incluindo dispositivos 2G, 3G, 4G e 5G. A rede de última geração, embora presente e elogiada por sua velocidade, aguarda uma maior popularização dos dispositivos compatíveis para que seu potencial seja plenamente aproveitado pela população.