Em vez de olhar para o infinito do espaço sem saber por onde começar, cientistas propõem uma nova estratégia para encontrar inteligência extraterrestre: seguir o rastro das nossas próprias comunicações. Uma palestra no festival Hacktown, no Sul de Minas Gerais, trouxe à tona esse debate, mostrando que a busca por respostas para a pergunta "estamos sozinhos?" ganhou um novo e promissor roteiro.
Onde procurar? A resposta está em nós
A busca por vida inteligente fora da Terra sempre enfrentou um dilema colossal: na imensidão do cosmos, onde e quando procurar? Por décadas, projetos como o SETI vasculharam o céu em busca de "tecnomarcadores" – sinais de rádio, pulsos de laser ou qualquer outro vestígio tecnológico que denuncie uma civilização alienígena.
Um estudo revolucionário de pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia e do Laboratório da NASA, nos Estados Unidos, inverte a lógica. A premissa é simples: em vez de tentar adivinhar como seres de outros mundos se comunicariam, devemos analisar como nós, humanos, fazemos isso. Ao mapear nossos próprios padrões de transmissão para o espaço, criamos um guia para onde sinais alienígenas semelhantes poderiam estar.
Uma estrada cósmica de sinais
A equipe, liderada pelo pesquisador Pinchen Fan, analisou um tesouro de dados: 20 anos de registros da Rede de Espaço Profundo (DSN) da NASA, entre 2005 e 2025. Essa rede, com antenas nos EUA, Espanha e Austrália, é a espinha dorsal das comunicações com sondas e rovers em missões interplanetárias.
A descoberta, publicada na revista Astrophysical Journal Letters, foi surpreendente. 79% de todas as transmissões humanas para o espaço profundo ocorrem concentradas em uma faixa muito estreita: dentro de apenas 5 graus do plano orbital da Terra. É como se nossas mensagens seguissem uma "estrada cósmica" bem definida, e não se dispersassem aleatoriamente.
O destino mais frequente desses sinais é Marte. Durante os alinhamentos entre a Terra e o planeta vermelho, as comunicações atingem um pico de atividade. Os cálculos mostram que, nesses períodos, uma civilização alienígena observando da direção de Marte teria cerca de 77% de chance de interceptar nossos sinais. Isso representa uma vantagem 400 mil vezes maior do que observar a partir de um ponto aleatório no céu.
Um novo roteiro para a busca
Essa descoberta oferece um plano de ação claro para os caçadores de tecnomarcadores. A lógica é que civilizações tecnologicamente avançadas provavelmente operariam redes de comunicação semelhantes à nossa DSN. Portanto, a busca deve se concentrar em exoplanetas que estejam alinhados em nosso plano orbital ou que transitam diante de suas estrelas.
O estudo calcula que uma transmissão típica da DSN poderia ser detectada por tecnologia equivalente à nossa a uma distância de até 7 parsecs (cerca de 23 anos-luz). Nesse raio cósmico ao redor da Terra, existem 128 sistemas estelares conhecidos, todos candidatos em potencial a abrigar ouvintes alienígenas.
"Se civilizações extraterrestres operarem redes similares à DSN, também poderemos detectar suas transmissões desses sistemas próximos", afirmam os pesquisadores.
O futuro da caça aos alienígenas
A busca está prestes a ganhar uma escala monumental. Com o futuro lançamento do telescópio espacial Nancy Grace Roman, os cientistas esperam descobrir mais cem mil exoplanetas, expandindo drasticamente a área de busca.
Jason Wright, professor da Penn State e diretor do Centro de Inteligência Extraterrestre, lembra que estamos no início da jornada. "Nossas transmissões só devem aumentar", afirma. Embora alienígenas possam usar tecnologias diferentes, como lasers, os sinais de rádio continuam sendo as marcas mais visíveis e audíveis de uma civilização tecnológica.
Esta nova abordagem não garante que encontraremos vizinhos cósmicos, mas oferece algo inédito: um roteiro quantitativo e baseado em dados sobre onde e quando procurar. Pela primeira vez, usamos nosso próprio reflexo no universo como uma bússola para encontrar outros.