O Salão Internacional do Automóvel de São Paulo retornou após sete anos de hiato com uma cara completamente nova. A 31ª edição do evento, realizada em novembro de 2025, apresentou-se mais enxuta, tecnológica e dominada pelas montadoras chinesas, marcando uma virada histórica no setor automotivo brasileiro.
O novo mapa automotivo brasileiro
Quem caminha pelos corredores do pavilhão percebe imediatamente a mudança no equilíbrio de forças. Nove fabricantes chinesas, sem contar a joint venture CAOA Chery, ocupam espaço significativo no evento, enquanto apenas dez marcas tradicionais mantêm sua presença. As ausências chamam tanto a atenção quanto as presenças: Volkswagen, GM e BMW optaram por não participar desta edição.
Em comunicado oficial, a Volkswagen justificou sua decisão alinhando-a à estratégia global da marca, preferindo participar de eventos como Circuito Sertanejo, Rock in Rio, The Town e C6 Fest. A General Motors, por sua vez, não enviou esclarecimentos sobre sua ausência até o momento da publicação das reportagens.
Tecnologia concreta no lugar de promessas
Diferente das edições anteriores, onde conceitos futuristas e protótipos de luxo dominavam as atenções, o Salão do Automóvel 2025 trouxe produtos reais e disponíveis para entrega em poucos meses. A eletrificação, que antes era tratada como um horizonte distante, tornou-se uma realidade palpável.
Márcio Calvet, presidente da Anfavea, resumiu bem a transformação: "hoje a indústria é mais sobre tecnologia do que sobre rodas". A afirmação reflete o caráter mais pragmático do evento, que abandonou o excesso de promessas vaporosas em favor de soluções tecnológicas concretas.
A ofensiva chinesa e as respostas das tradicionais
As montadoras chinesas chegaram ao Brasil com estratégia agressiva e produtos competitivos. O Grupo Geely, que adquiriu 26,4% da operação da Renault no Brasil, estreia no país mirando a disputa direta com a BYD, oferecendo elétricos populares na casa dos R$ 100 mil produzidos localmente.
A Stellantis, percebendo a mudança no mercado, selou parceria com a chinesa Leapmotor para produzir veículos elétricos no país - um movimento que seria impensável há alguns anos para o maior conglomerado automotivo da região. Já a Chery, em parceria com a CAOA, amplia seu portfólio com duas novas marcas: CAOA Changan, focada em elétricos de luxo, e Omoda Jaecoo, especializada em SUVs híbridos e elétricos de médio e alto padrão.
Nos bastidores, um executivo definiu o evento como "um salão oriental", diagnóstico preciso considerando que, além das chinesas, quase todas as grandes marcas presentes são japonesas ou coreanas, deixando a Europa em segundo plano.
O incentivo governamental e os investimentos
O renascimento do salão não foi espontâneo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos principais incentivadores, cobrando das montadoras maior exposição ao consumidor. Em visita ao evento antes de embarcar para uma agenda internacional na África, Lula celebrou os investimentos do setor.
Sob o guarda-chuva do programa Mover, as montadoras assumiram compromissos de R$ 140 bilhões em investimentos até 2033, o maior pacote em duas décadas. Os recursos se concentram em eletrificação, segurança veicular, pesquisa e desenvolvimento e novas plataformas produtivas.
Em seu discurso, Lula destacou: "Nunca tivemos tanto investimento direto neste país como temos agora". O gesto presidencial reforça a importância estratégica que o governo atribui ao setor automotivo.
Aprovação do público e futuro garantido
O novo formato parece ter agradado o público. Mais de 200 mil visitantes passaram pelos portões desde a abertura em 22 de novembro, número suficiente para que a Anfavea confirmasse a próxima edição para 2027.
O Salão do Automóvel de 2025 pode não ter a pompa do passado, mas representa fielmente o setor automotivo atual: competitivo, globalizado, tecnológico e com a China disputando, sem constrangimento, o papel de protagonista no mercado brasileiro.