Médico do SUS Revoluciona Atendimento com Plataforma para Pacientes com Dificuldade de Leitura
Médico do SUS cria app para quem não lê bem

Imagine tentar seguir um tratamento médico sem conseguir decifrar direito as instruções escritas. Pois é, essa realidade é mais comum do que a gente imagina no Brasil. Mas um médico do SUS em Petrolina, no sertão pernambucano, decidiu que já estava mais do que na hora de virar esse jogo.

Dr. Rodrigo Lemos, que atende na rede pública, percebia diariamente o desespero mudo nos olhos de pacientes que não conseguiam interpretar receitas, laudos ou orientações básicas. "Era como se eu estivesse falando em código para uma parte das pessoas", conta ele, com a voz ainda carregada da frustração daqueles momentos.

Da Necessidade Nasce a Solução

Foi aí que veio o estalo. Por que não usar aquilo que todo mundo tem no bolso - o celular - para traduzir a linguagem médica em algo que qualquer um consiga entender? A ideia parecia simples, mas o impacto prometia ser monumental.

A plataforma que ele desenvolveu é, nas palavras dele, "descomplicada de propósito". Funciona assim: o paciente recebe um link por WhatsApp ou SMS. Ao clicar, encontra explicações em áudio, vídeos curtos com demonstrações visuais e até mesmo instruções por meio de ilustrações intuitivas. Tudo pensado para quem, por diversos motivos, não se sente confortável com texto escrito.

Os Números que Impressionam

Os resultados começaram a aparecer rápido - e falaram mais alto que qualquer discurso:

  • Redução de 40% nas faltas às consultas de retorno
  • Quase 60% de aumento na adesão aos tratamentos de longo prazo
  • Feedback positivo de 9 em cada 10 pacientes que testaram o sistema

Mas o que realmente emociona são os depoimentos. Como o de dona Maria, 68 anos, que pela primeira vez conseguiu entender direitinho como tomar sua medicação para diabetes. "Antes eu ficava com vergonha de perguntar de novo, agora escuto quantas vezes precisar", disse ela, visivelmente aliviada.

Desafios e Próximos Passos

Claro que não foi um mar de rosas. Rodrigo enfrentou desde a desconfiança inicial de alguns colegas até as limitações técnicas de uma cidade do interior. "Teve dia que pensei em desistir, mas aí lembrava do sorriso de alívio dos pacientes e seguia em frente."

O projeto agora busca parcerias para expandir para outras cidades do Vale do São Francisco. A meta é ambiciosa: atingir 10 mil pacientes até o final do próximo ano. E o melhor? Tudo gratuito, mantendo o espírito do SUS que deveria ser - acessível para todos, sem exceção.

Enquanto muitos reclamam dos problemas do sistema público, esse médico prova que soluções criativas podem nascer justamente onde os desafios são maiores. Uma lição de que, às vezes, a tecnologia mais eficiente é aquela que entende as reais necessidades das pessoas.