Unidade de saúde em Natal vira cenário de caos: filas intermináveis e falta de fichas deixam população à míngua
Filas e falta de fichas em posto de saúde de Natal revoltam moradores

Não é exagero dizer que a cena parece saída de um filme distópico: dezenas de pessoas aglomeradas desde as primeiras luzes do dia, algumas até com cadeiras de praia, esperando por um milagre — ou melhor, por uma ficha de atendimento. Essa é a realidade crua que os moradores da Zona Oeste de Natal enfrentam diariamente no posto de saúde do bairro.

"Cheguei às 5h da manhã e já tinha gente na frente", conta Dona Maria, 62 anos, que precisava renovar sua receita de hipertensão. "Quando finalmente abriram, disseram que só tinham 30 fichas... e eu era a 32ª na fila". A voz dela treme — metade de raiva, metade de exaustão.

O desespero tem horário marcado

Segundo relatos, o problema não é novo, mas piorou drasticamente nos últimos meses. A unidade, que atende uma região com mais de 50 mil habitantes, parece ter virado refém de sua própria incapacidade:

  • Fichas esgotam antes das 7h
  • Pacientes com condições graves competem por vagas com casos simples
  • Faltam médicos em dias "normais", piorando nos finais de semana

Um jovem pai, que preferiu não se identificar, chegou a dormir no local após ser orientado a "tentar a sorte no dia seguinte". "Minha filha está com febre há três dias. Isso aqui é um vale-tudo", desabafa.

E o poder público?

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal emitiu uma nota genérica — daquelas que todo mundo já decorou — falando em "otimização de processos" e "estudos para ampliação do horário de atendimento". Enquanto isso, nas ruas, a população improvisa:

  1. Grupos organizam rodízio para "segurar lugar" na fila
  2. Alguns pagam "frentistas" para chegar mais cedo
  3. Outros simplesmente desistem e arriscam a sorte em prontos-socorros superlotados

Não deveria ser assim. Num país que se gaba do SUS, cenas como essas são um tapa na cara da dignidade. Mas quem tem tempo para indignação quando precisa garantir um pedaço de papel que vale uma consulta?