
Parece coisa de filme de ficção, mas é a pura realidade carioca: uma prática proibida há mais de uma década teima em sobreviver – e prosperar – nas sombras da cidade maravilhosa. O bronzeamento artificial, banido no Brasil desde 2009 pela Anvisa, não só resiste como exibe uma vitalidade surpreendente, ancorada numa poderosa estratégia de marketing digital.
Um verdadeiro exército de clínicas e espaços de estética segue operando, muitas vezes às claras, desafiando a legislação. E o pior? Elas não se escondem. Pelo contrário, exibem seus serviços para milhares de seguidores ávidos por aquele dourado perfeito, porém, perigosamente artificial.
Uma Presença Digital Assustadoramente Forte
Basta uma busca rápida nas redes sociais para se deparar com um universo paralelo. Perfis especializados, alguns com mais de 30 mil seguidores, postam vídeos e fotos sedutores, prometendo resultados imediatos e um bronzeado de invejar. A linguagem é cuidadosamente elaborada, evitando o termo "bronzeamento artificial" – proibido – e substituindo-o por eufemismos como "banho de luz" ou "terapia de luz".
É um jogo de gato e rato, mas, francamente, parece que o rato está ganhando. A fiscalização, como em tantos outros casos, patina. A Subsecretaria de Vigilância Sanitária do Rio admitiu que a busca por esses estabelecimentos é, majoritariamente, reativa. Só agem quando a denúncia chega. Enquanto isso, as máquinas continuam ligadas.
O Preço da Vaidade: Riscos que Ninguém Deveria Correr
E aqui chegamos no ponto crucial, aquele que deveria ser um grito de alerta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é categórica: as câmaras de bronzeamento emitem radiação ultravioleta carcinogênica, no mesmo patamar perigoso do amianto e do tabaco. Não é exagero, é fato científico.
- Aumento brutal do risco de câncer de pele: a exposição antes dos 35 anos eleva a probabilidade de desenvolver melanoma, o tipo mais agressivo, em assustadores 75%.
- Envelhecimento precoce da pele: a radiação acelera o aparecimento de rugas e manchas, efeito totalmente oposto ao que os clientes buscam.
- Danos oculares: problemas como catarata podem surgir sem a proteção adequada.
É um contrassenso total. As pessoas buscam beleza e bem-estar em um procedimento que, na verdade, é uma agressão brutal ao maior órgão do corpo humano.
O Vácuo da Fiscalização e a Responsabilidade das Plataformas
O caso expõe uma ferida antiga: a dificuldade de monitorar e coibir práticas ilegais que se aproveitam do ambiente digital. As plataformas de redes sociais, que lucram com a divulgação, têm uma parcela de responsabilidade nisso? A discussão é complexa e espinhosa.
Enquanto o poder público e as big techs debatem, o cidadão fica no meio do fogo cruzado, vulnerável a promessas perigosas. A conscientização ainda é a arma mais poderosa. Desconfie de promessas milagrosas. Valorize a saúde da sua pele. Afinal, um bronzeado bonito é aquele que vem com saúde, e não com um risco imenso de doença.