Brasil sai do Mapa da Fome da ONU: o que isso realmente significa?
Brasil sai do Mapa da Fome, mas desafios persistem

Não é todo dia que a gente recebe uma notícia dessas. Depois de anos no limbo, o Brasil finalmente deu adeus ao Mapa da Fome da ONU — pelo menos é o que diz o último relatório. Mas calma lá, não é hora de soltar foguete ainda.

Segundo os números — que, convenhamos, sempre dão margem para discussão —, menos de 2,5% da população brasileira enfrenta subalimentação grave. Um avanço? Sem dúvida. Mas a realidade nas periferias e no interior ainda é bem mais complicada do que os gráficos mostram.

Os dois lados da moeda

Quem vive no dia a dia sabe: tem mãe que ainda pula refeição pra alimentar os filhos, tem aposentado que recorre ao osso do açougue. Os especialistas — aqueles que realmente botam o pé na lama — apontam que programas como o Bolsa Família (agora Auxílio Brasil) fizeram diferença, mas...

O "mas" é grande. A inflação nos alimentos básicos — arroz, feijão, óleo — não perdoa. E tem mais: a distribuição geográfica dessa melhora é desigual como um campo de futebol com buracos.

O que os números não contam

  • Regiões Norte e Nordeste ainda lideram em insegurança alimentar
  • Comida até tem, mas qualidade nutricional é outra história
  • Dados oficiais vs. realidade das comunidades — existe um abismo

E aí vem a pergunta que não quer calar: será que estamos comemorando antes da hora? Um economista que prefere não se identificar me disse, entre um café e outro: "Isso aí é vitória de Pirro — ganha no papel, perde no prato".

O relatório da ONU — que, diga-se de passagem, usa metodologias que mudaram nos últimos anos — destaca avanços, mas especialistas independentes fazem ressalvas importantes. A fome no Brasil diminuiu, sim, mas se transformou. Virou fome oculta, fome de nutrientes, fome que não aparece nas estatísticas oficiais.

Enquanto isso, nas grandes cidades, o preço do botijão de gás e do leite longa vida fazem famílias repensarem o cardápio todo mês. No campo, a concentração de terras e os monocultivos continuam limitando o acesso a alimentos diversificados.

É como dizia minha avó: "De boas intenções, o inferno tá cheio". O Brasil pode ter saído do mapa, mas será que a fome realmente saiu do Brasil?