Kika Brandino, jogadora do Botafogo, abre o coração sobre depressão: "A cura veio de dentro"
Kika Brandino revela batalha contra depressão

Ela entra em campo com a determinação estampada no rosto, dribla adversárias com elegância e chuta com precisão. Mas por trás da jogadora talentosa que encanta no Botafogo, havia uma guerra particular travada longe dos holofotes. Kika Brandino – ou simplesmente Kika, como é conhecida nos gramados – resolveu quebrar o silêncio sobre um adversário mais difícil que qualquer marcação cerrada: a depressão.

Não foi fácil. Na verdade, foi dolorosamente complicado. A atleta descreve um período onde tudo parecia cinza, como se jogasse com uma névoa constante atrapalhando sua visão de jogo – e da vida. "Precisava me curar," confessa, com aquela franqueza que só quem já esteve no fundo do poço consegue ter.

O ponto de virada

O que poucos sabiam é que durante alguns de seus melhores momentos em campo, Kika lutava contra crises de ansiedade que a deixavam literalmente sem ar. Imagina só: você está fazendo o que mais ama, mas seu próprio corpo parece sabotar cada movimento. Desesperador? Com certeza.

Ela lembra de dias em que se arrastava para os treinos, sorriso forjado, performance mecânica. "Às vezes eu me perguntava: como posso estar aqui, fazendo isso, quando mal consigo levantar da cama?" A desconexão entre atleta profissional e ser humano fragilizado era brutal.

A rede de apoio que fez a diferença

Mas eis onde a história vira. Kika encontrou forças onde menos esperava: no vestiário. Suas companheiras de time, percebendo que algo não ia bem, começaram a tecer uma rede invisível de apoio. Um abraço aqui, uma palavra ali – nada de grandioso, mas tudo significativo.

O Botafogo, diga-se de passagem, mostrou que time vencedor não é só o que faz gols. Ofereceram suporte psicológico, ouviram sem julgamentos e, o mais importante, deram tempo ao tempo. No mundo do futebol, onde resultados importam acima de tudo, isso sim é raridade.

O esporte como terapia

Curiosamente, foi justamente o futebol que se tornou sua âncora. Dentro das quatro linhas, Kika encontrava alívio para a mente atribulada. Cada toque na bola, cada corrida, cada respiração ofegante – tudo isso a mantinha conectada ao presente, longe dos pensamentos intrusivos.

Não é ironia? O mesmo ambiente que poderia agravar sua ansiedade transformou-se em santuário. Claro, com altos e baixos – dias bons, ruins e horríveis. Mas a persistência da atleta em não abandonar nem a carreira nem a si mesma comove.

O recado que fica

Kika não compartilha sua jornada por acaso. Há um propósito claro por trás da vulnerabilidade: normalizar conversas sobre saúde mental no esporte. "Se minha história puder ajudar uma única pessoa," diz, "já valeu a pena."

E que história. Mais que atleta, Kika Brandino mostra-se humana – frágil, forte, resiliente. Um lembrete poderoso de que mesmo nossos heróis esportivos travam batalhas invisíveis. E que às vezes, a maior vitória não é levantar um troféu, mas simplesmente levantar-se.