Psicóloga de Harvard explica como o cérebro reage ao Natal e como aceitar a realidade
Como o cérebro reage às expectativas do Natal, por Harvard

O período natalino, frequentemente associado a alegria e reencontros, pode se transformar em uma fonte significativa de estresse e ansiedade. A psicóloga e professora da Universidade de Harvard, Luana Marques, oferece um olhar científico sobre esse fenômeno, ensinando como é possível transformar o medo em ação e treinar a mente para navegar pelas incertezas dessa época.

O mecanismo cerebral por trás da tensão natalina

Em um relato pessoal datado de 25 de dezembro de 2025, Victória Ribeiro ilustra uma cena comum: uma família reunida em um hotel neutro e confortável perto do Mall of America, em Minneapolis, longe da pressão da "casa cheia". Apesar do cenário ideal, a tensão surgiu em poucas horas devido a desejos conflitantes – descanso, brincadeiras, conversas e tranquilidade. Ninguém estava errado, mas ninguém estava plenamente atendido.

Esse exemplo revela uma verdade psicológica crucial: o Natal não é difícil pela falta de amor, mas pelo excesso de expectativa. Do ponto de vista da neurociência, datas simbólicas como essa ativam um mecanismo central do cérebro humano: a necessidade de prever. Nosso cérebro funciona como uma máquina de antecipação, tentando prever quem estará presente, como as pessoas vão se comportar e como nos sentiremos, na tentativa de garantir que tudo saia perfeitamente.

Expectativa: uma tentativa frustrada de controle

A expectativa é, essencialmente, uma tentativa de controle. Quando imaginamos um Natal perfeito, o cérebro não está sendo ingênuo, mas sim tentando reduzir a incerteza emocional. O problema, como explica a abordagem da psicóloga Luana Marques, é que a realidade raramente segue o roteiro que criamos. Quando a previsão falha, o cérebro interpreta a divergência como uma ameaça, desencadeando sentimentos como:

  • Frustração
  • Irritação
  • Culpa
  • Ressentimento

É neste ponto que a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), abordagem referenciada por Marques, faz uma distinção vital: a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.

Aceitação não é resignação: é uma escolha ativa

A dor, entendida como parte da condição humana, aparece quando percebemos que o Natal não será como imaginamos. Já o sofrimento é o resultado da luta contra a realidade. Pensamentos como "Isso não deveria estar acontecendo" ou "Era para estarmos mais felizes" não aliviam a situação; pelo contrário, a intensificam.

Aceitar, no contexto psicológico, não significa concordar, gostar ou desistir. Significa parar de gastar energia tentando forçar a realidade a se encaixar em um ideal. No exemplo do hotel, o alívio veio quando cada membro da família reconheceu seus próprios limites. A experiência não se tornou mágica ou perfeitamente harmônica, mas se tornou real e, finalmente, suficiente.

O convite proposto por essa perspectiva é poderoso: talvez o objetivo do Natal não seja "fazer dar certo", mas sim parar de exigir que ele confirme uma fantasia. A pergunta útil deixa de ser "Como faço para este Natal ser perfeito?" e se transforma em "O que está acontecendo aqui, e como posso responder a isso com mais lucidez?".

Um treino para a vida real

Ao soltar a âncora das expectativas rígidas, algo fundamental muda. A dor da divergência entre sonho e realidade pode persistir, mas ela deixa de se transformar em sofrimento prolongado. O Natal, portanto, deixa de ser um teste de felicidade para se tornar um treino de aceitação da realidade como ela é.

Paradoxalmente, é essa aceitação que costuma aproximar as pessoas daquilo que realmente importa: a conexão genuína, mesmo dentro da imperfeição. A psicóloga Luana Marques continua a discussão sobre ciência psicológica aplicada à vida real em seu perfil no Instagram, @luanamarques.phd, onde aborda temas como saúde mental sem atalhos ou romantizações.