Mentes em Risco: Como os Jogos de Azar Sequestram o Cérebro e Onde Encontrar Salvação
Cérebro e Jogos de Azar: O Sequestro Químico da Mente

É quase um clichê dizer que virou a noite jogando – mas e quando isso deixa de ser uma diversão esporádica e se transforma numa compulsão incontrolável? Pois é, o que começa como entretenimento pode, para alguns, descarrilar numa espiral perigosa.

O neurologista André Felício, um cara que realmente entende do riscado, explica com uma clareza que dói: o cérebro de um apostador patológico funciona sob um sequestro químico. Não é fraqueza de caráter, não é "falta do que fazer". É pura neurobiologia.

O Mecanismo da Ilusão

Aqui vai o pulo do gato que pouca gente compreende. Toda vez que a roleta gira ou as cartas são distribuídas, nosso sistema de reação entra em estado de alerta máximo. A possibilidade – só a possibilidade – de ganhar libera doses cavalares de dopamina, aquele neurotransmissor maroto responsável pela sensação de prazer.

O problema? Com o tempo, o cérebro fica viciado nessa montanha-russa química. E aí a tragédia se instala: a pessoa não joga mais para ganhar dinheiro. Joga para sentir aquela descarga neuroquímica que a mantém funcionando. Perdeu tudo? Não importa. O importante é a próxima aposta, a próxima chance de sentir aquele frio na barriga.

Sinais de Alerta que Não Podem Ser Ignorados

  • Mentiras recorrentes sobre perdas e gastos
  • Falta de controle sobre o tempo e dinheiro investidos
  • Irritação quando questionado sobre o hábito
  • Negligência com trabalho, estudos e relações familiares
  • Tentativas frustradas de reduzir ou parar

E olha que o buraco é mais embaixo: muitas dessas pessoas desenvolvem comorbidades terríveis. Ansiedade generalizada, depressão profunda, crises de pânico. É um pacote amaldiçoado que se autoalimenta.

Existe Saída? Felizmente, Sim.

Bauru, diga-se de passagem, está mais preparada do que se imagina para enfrentar esse problema. O Ambulatório de Saúde Mental do HC-FMB-USP, por exemplo, virou uma referência na região. Eles não tratam apenas a dependência – tratam a pessoa como um todo.

A terapia cognitivo-comportamental aparece como uma ferramenta poderosa. Basicamente, ela ajuda o paciente a reconfigurar esses padrões de pensamento tortos que o levam a acreditar que "a próxima jogada será a vencedora".

E tem mais: grupos de apoio como os Jogadores Anônimos oferecem suporte comunitário inestimável. Conversar com quem está na mesma luta faz uma diferença abissal. Às vezes, a sensação de solidão é o que mais aperta.

O Papel da Família

Os familiares, coitados, muitas vezes se sentem completamente perdidos. Como ajudar sem habilitar? Como apoiar sem julgar? A orientação é clara: buscar informação e apoio para si mesmo é o primeiro passo. Ninguém salva ninguém se estiver se afogando também.

O caminho é árduo, sim. Mas a recuperação é mais que possível – é provável quando se conta com os recursos certos. O importante é dar o primeiro passo. Reconhecer que há um problema já é metade do caminho andado.

E se tem uma coisa que precisa ficar clara: vício em jogos de azar não é escolha. É doença. E como tal, merece tratamento, não julgamento.