
Não é novidade que o sistema de saúde brasileiro ainda carrega marcas profundas do racismo estrutural. Mas em Santos, a prefeitura decidiu agir — e de forma concreta. A partir de agora, a cidade conta com um comitê específico para enfrentar as disparidades no atendimento à população negra.
Parece óbvio, mas não é. Enquanto muitos municípios ainda engatinham no debate, Santos colocou o pé no acelerador. O grupo, formado por representantes da saúde, movimentos sociais e especialistas, vai mapear as falhas no sistema e propor mudanças reais. Desde o acesso a medicamentos até o treinamento de profissionais para lidar com vieses inconscientes.
O que muda na prática?
Pra começar, dados. O comitê vai garimpar informações que muitas vezes ficam escondidas nas estatísticas — porque sim, o racismo também se esconde nos números mal desagregados. Depois, vem a parte mais dura: transformar diagnóstico em ação.
- Capacitação obrigatória para profissionais de saúde
- Protocolos específicos para doenças que afetam desproporcionalmente a população negra
- Campanhas de conscientização que realmente cheguem nas periferias
"Não adianta ter um SUS universal se ele não for igualitário", dispara uma das integrantes do comitê, que prefere não se identificar. Ela tem razão. Quantas vezes você já ouviu histórias de mulheres negras cujas dores foram subestimadas em prontos-socorros?
O desafio da implementação
Aqui é que mora o perigo — criar comitês é fácil, difícil é fazer andar. Santos tem a vantagem de já ter uma rede de saúde robusta, mas mesmo assim... Será que vão conseguir furar a bolha da burocracia? A secretaria garante que sim, prometendo relatórios trimestrais com metas claras.
Enquanto isso, nas ruas, a esperança se mistura com ceticismo. "Já vi muitos planos bonitos morrerem no papel", comenta Dona Maria, moradora do bairro da Pompeia. Mas desta vez, ela torce para estar errada.