
Imagine acordar todos os dias com um propósito que vai além de si mesmo. É assim que vive Carlos, um pai solo de 42 anos que transformou sua vida numa missão: preparar o filho autista, Lucas, 10, para o dia em que ele não estará mais aqui.
Não é drama, é realidade. E ele tá botando a mão na massa — literalmente. Desde ensinar o menino a fazer sanduíches (e limpar a bagunça depois) até criar um sistema visual de tarefas que parece mais complexo que o metrô de São Paulo.
Rotina? Mais que isso — um plano de guerra
"A gente não tem tempo pra frescura", diz Carlos, enquanto mostra a agenda colorida na parede da cozinha. Cada cor é um tipo de atividade: azul para higiene, verde para alimentação, amarelo para estudos. Parece simples, mas foi meses de tentativa e erro — e muita paciência.
O banho, por exemplo, virou uma sequência de passos com fotos plastificadas. "No começo ele chorava, agora até canta no chuveiro", conta, com um sorriso que vale mais que mil palavras.
Desafios que ninguém te conta
Não é só sobre ensinar a escovar os dentes. Tem coisas que a gente nem pensa — tipo como explicar que não pode sair abraçando estranhos na rua, ou que o micro-ondas não é brinquedo.
- O primeiro ano escolar foi um parto — professores despreparados, crianças que não entendiam
- A luta diária por terapias que custam mais que o aluguel
- As noites em claro pesquisando métodos no celular
Mas o que mais dói? "Saber que um dia vou faltar", admite, os olhos marejados. Por isso criou o "Livro da Vida" — um caderno onde registra tudo, desde receitas favoritas até como acalmar as crises.
E quando o sistema falha?
Aqui entra o que Carlos chama de "malandragem do amor": ensinar Lucas a pedir ajuda. "Coloquei adesivos no tênis dele — se aparecer um coração, é sinal que precisa de auxílio". Genial, não?
E tem mais:
- Treinou com o menino como identificar policiais e seguranças
- Criou uma pulseira com contatos de emergência
- Ensaiaram cenas de "e se" até a exaustão
"Meu maior medo? Ele ficar vulnerável. Mas meu maior orgulho? Ver ele aprendendo a se defender", diz, mostrando um vídeo onde Lucas recusa comida de um desconhecido — cena que repetiram 87 vezes até dar certo.
No fim, a história desse pai vai além do autismo. É sobre qualquer um que já se perguntou: "O que será deles quando eu não estiver aqui?" E Carlos prova que, com criatividade e amor duro, dá pra preparar o terreno — mesmo quando o futuro é uma incógnita.