Rio das Pedras Perde Sua Memória Viva: Morre aos 116 Anos a Moradora Mais Idosa da Cidade
Morre aos 116 anos a moradora mais idosa de Rio das Pedras

O coração de Rio das Pedras parou por um instante nesta semana. Não foi por falta de energia ou problemas na rede elétrica — foi algo muito mais profundo. A cidade perdeu sua guardiã mais preciosa, Dona Maria Aparecida da Silva, que aos impressionantes 116 anos fechou os olhos para sempre.

Imagine só: quando ela nasceu, em 1909, o mundo era completamente diferente. Santos Dumont ainda voava por aí, Getúlio Vargas era um jovem desconhecido e ninguém imaginava o que seria internet. Dona Maria carregava nas rugas do rosto — cada uma delas — histórias que livros nenhum poderia contar.

Uma Vida Que Era Um Verdadeiro Baú de Memórias

Quem conversava com ela saía diferente. Não era só pela idade avançada, mas pela lucidez que mantinha até os últimos dias. "Ela lembrava de detalhes do município que nem os arquivos municipais registravam", contou uma vizinha, emocionada. "Era nossa enciclopédia humana."

O neto, João Silva, compartilhou algo que talvez explique tanta longevidade: "Vovó sempre dizia que o segredo era viver sem pressa e sem rancor. Ela ria das pequenas coisas — um café bem quente, uma conversa na varanda, o canto dos pássaros pela manhã."

O Legado Que Fica

Mais do que números em uma certidão de nascimento, Dona Maria representava algo raro nos dias de hoje: continuidade. Ela era a ponte entre um passado quase esquecido e um presente acelerado. Nas festas da cidade, sua presença era quase cerimonial — todos queriam cumprimentá-la, tocar sua mão, ouvir alguma palavra.

O prefeito, em pronunciamento, foi direto: "Perdemos não apenas uma cidadã, mas parte fundamental da nossa identidade. Ela era o retrato vivo da resistência e da simplicidade que caracteriza nosso povo."

O velório, é claro, foi uma demonstração de carinho coletivo. Gente de todas as idades — dos mais velhos que cresceram ouvindo suas histórias aos jovens que a viam como uma lenda — passou pela capela para dar o último adeus.

Fica a pergunta que não quer calar: quantas transformações uma única pessoa pode testemunhar? Duas guerras mundiais, a invenção de praticamente tudo que consideramos moderno, mudanças sociais profundas. Dona Maria viu tudo isso — e ainda assim, até o final, mantinha aquela serenidade que só quem realmente entende a vida consegue cultivar.

Rio das Pedras está de luto, mas também de celebração. Celebrar uma existência tão longa e, pelo que contam, tão bem vivida. O exemplo fica — de resiliência, de amor à terra natal, de como envelhecer com graça e dignidade.