Estudo no BMJ revela: evidências sobre paracetamol e autismo são fracas
Paracetamol na gravidez: estudo questiona ligação com autismo

Uma análise científica abrangente publicada nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025, no prestigiado periódico The British Medical Journal trouxe novas perspectivas sobre a polêmica relação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o risco de desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças.

Metodologia rigorosa e resultados surpreendentes

Os pesquisadores conduziram uma revisão sistemática de todas as evidências científicas disponíveis sobre o tema, mapeando 663 citações através de palavras-chave específicas. Desse total, foram incluídas nove revisões sistemáticas publicadas na última década, que por sua vez analisaram 40 estudos primários sobre a possível conexão entre o medicamento e condições neurodesenvolvimentais.

O resultado foi claro: sete das nove revisões recomendaram cautela na interpretação dos resultados devido ao risco potencial de viés e fatores de confusão presentes nos estudos analisados. A confiança nos resultados das revisões foi classificada como baixa em duas revisões e criticamente baixa em sete.

Fatores de confusão e limitações metodológicas

De acordo com a publicação, apenas um estudo entre todos os analisados fez ajustes adequados em relação aos fatores familiares e outros elementos que poderiam distorcer os resultados. A pesquisa que utilizou dados de irmãos para controlar as análises se destacou pela metodologia mais robusta.

Estudos que não ajustaram para importantes fatores de confusão, como elementos genéticos e ambientais familiares, saúde materna, indicações para o uso de paracetamol e outros potenciais fatores não mensurados, não podem estimar com precisão os efeitos da exposição intrauterina ao medicamento no neurodesenvolvimento infantil, conforme destacado pelos pesquisadores.

Contexto internacional e implicações práticas

A investigação ganhou importância pelo fato de o paracetamol ser um dos medicamentos mais utilizados na gravidez em todo o mundo e continuar sendo indicado pelas principais agências regulatórias, incluindo as da Europa, Reino Unido e Austrália.

Os pesquisadores lembraram que o risco de desfechos negativos para gestantes que apresentam episódios de febre alta - situação em que os médicos costumam indicar o remédio - também deve ser considerado. Além disso, o anúncio feito pelo governo dos Estados Unidos em setembro, que alterou a bula do medicamento por uma "possível associação" com o autismo, gerou preocupação entre grávidas e mães de crianças que vivem no espectro.

Conclusões e recomendações

Diante de todas as evidências analisadas, o estudo conclui que as associações encontradas anteriormente provavelmente foram influenciadas por fatores familiares não adequadamente controlados. Os pesquisadores foram enfáticos ao afirmar que as evidências existentes não estabelecem uma ligação clara entre o uso materno de paracetamol durante a gravidez e o autismo ou o TDAH nos filhos.

Esta revisão sistemática demonstra a falta de evidências robustas para sustentar essa associação, de modo que órgãos reguladores, médicos, gestantes e familiares de pessoas que vivem com TEA e TDAH devem estar cientes da baixa qualidade das revisões existentes até o momento.