Solidariedade que transforma: como ONGs e igrejas estão mudando a vida de moradores de rua em Fortaleza
ONGs e igrejas mudam vida de moradores de rua em Fortaleza

Não é fácil acordar sob um céu de concreto, sem saber se hoje vai ter o que comer ou onde tomar banho. Em Fortaleza, essa é a realidade de milhares de pessoas que vivem nas ruas — mas a esperança, às vezes, vem em forma de sopa quente, cobertor limpo ou simplesmente um ouvido amigo.

Pelas calçadas da cidade, onde o asfalto queima de dia e o vento corta à noite, um exército de anônimos trabalha silenciosamente. São voluntários de ONGs, fiéis de igrejas, gente comum que decidiu estender a mão. E o que eles oferecem vai muito além de um prato de comida.

Mais que assistência: dignidade

"A gente tenta olhar nos olhos, chamar pelo nome, lembrar que ali tem uma história", conta Maria do Socorro, coordenadora de um projeto social no Centro. Ela fala enquanto distribui kits de higiene pessoal — sabonete, escova de dente, absorventes — itens básicos que fazem diferença gigante.

Algumas iniciativas inovadoras chamam atenção:

  • Banheiros móveis que percorrem pontos estratégicos da cidade
  • Oficinas profissionalizantes ministradas por ex-moradores de rua
  • Postos de atendimento psicológico em tendas montadas em praças públicas

Numa esquina do Benfica, a cena é quase poética: sob uma mangueira, um grupo divide café da manhã enquanto um violão toca. "Isso aqui salva", diz José Carlos, 54 anos, entre um gole de café e um pedaço de bolo. Ele se refere tanto à comida quanto ao acolhimento.

Desafios que persistem

Claro que não é tudo flores — os obstáculos são tantos quanto as histórias de superação. Falta de verdura, burocracia para acesso a programas sociais, preconceito. Muitos relatam ter sido barrados em estabelecimentos comerciais só pela aparência.

"Tem dias que a fome é menor que a vergonha", confessa uma senhora que pede para não ser identificada. Ela conta que já deixou de procurar ajuda por medo de julgamento.

Mas os números mostram que, apesar de tudo, a rede de apoio cresce. Só no primeiro semestre deste ano, projetos cadastrados na prefeitura atenderam 30% a mais de pessoas que no mesmo período de 2024. Pequenos milagres do cotidiano.

No final das contas, o que fica é a lição simples de que todo mundo precisa de um pouco de calor humano — e que às vezes, nas situações mais difíceis, é a solidariedade de desconhecidos que segura a barra.