
Imagine ter que escolher entre o sustento da família e o cuidado dos filhos. Foi esse dilema que um pai indígena de Roraima enfrentou — até que a justiça entrou em cena com uma solução inovadora.
Num caso que pode virar precedente, o Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (AM/RR) acatou um acordo que permite ao profissional exercer suas funções em home office até que os gêmeos completem seis anos de idade. Detalhe curioso: a mãe das crianças também é indígena e já usufruía do benefício.
Um precedente importante
"Não se trata apenas de um caso isolado", comenta um especialista em direito trabalhista que preferiu não se identificar. "É o reconhecimento tácito de que a parentalidade indígena precisa de adaptações específicas no mundo corporativo."
O acordo — que evitou uma ação judicial mais demorada — estabelece que:
- O pai manterá 100% do salário
- Terá equipamentos adequados fornecidos pela empresa
- Poderá conciliar horários conforme necessidades familiares
Curiosamente, a decisão considerou não apenas aspectos trabalhistas, mas também culturais. "Muitas vezes esquecemos que as estruturas familiares indígenas podem diferir significativamente das urbanas", observa a antropóloga Maria Fernandes.
O outro lado da moeda
Nem tudo são flores, claro. Alguns empregadores ainda resistem à ideia — "E se todo mundo quiser?", questiona o dono de uma pequena empresa que preferiu não se identificar. Mas especialistas argumentam que casos como esse tendem a aumentar a produtividade no longo prazo.
Enquanto isso, na casa do beneficiado, a rotina mudou completamente. "Antes eu via meus filhos dormindo. Agora participo de suas descobertas", conta o pai, entre uma reunião virtual e outra. E os gêmeos? Aparentemente aprovam a nova rotina — quando não estão tentando "ajudar" no teclado, é claro.