
Imagine ter que pegar três ônibus só para sacar seu dinheiro. É essa a realidade que espera os moradores do Jardim Cândido, na Zona Leste de São Paulo, a partir de novembro. A Caixa Econômica Federal anunciou o fechamento da única agência do bairro, deixando a população literalmente à própria sorte.
E não é por falta de aviso. A própria instituição reconhece, em ofício enviado ao Ministério das Cidades, que a região sofre com uma combinação perversa: internet que some quando mais se precisa e transporte público que mais parece um jogo de azar. "Horários irregulares", diz o documento - e quem mora por lá sabe que isso é eufemismo para "esqueça seus compromissos".
O vácuo que se aproxima
A partir de 10 de novembro, o balcão de atendimento na Rua Serra da Mantiqueira vira história. Os cerca de 17 mil clientes - muitos deles beneficiários do Bolsa Família e aposentados - terão que se virar nos trinta. A agência mais próxima? Fica no Jardim São Paulo, a uns 5 quilômetros de distância. Parece pouco, mas na prática é uma via-crúcis.
O que mais revolta é que a Caixa justifica o fechamento citando justamente os problemas que deveria ajudar a resolver. A tal "modernização da rede" soa como ironia quando a internet da região é tão instável que até o sinal do celular vive dando adeus.
Entre a cruz e a caldeirinha
Os moradores agora enfrentam um dilema cruel: ou se submetem a horas de transporte público irregular ou tentam a sorte com aplicativos que frequentemente travam por falta de conexão. E olhe que estamos falando de gente que depende do banco para receber benefícios sociais essenciais.
"É como se estivessem nos punindo por viver numa área carente", desabafa uma moradora que preferiu não se identificar. Ela tem razão - a sensação é de abandono institucional completo.
O silêncio que grita
Enquanto isso, a Prefeitura de São Paulo e o governo federal seguem em um jogo de empurra-empurra. Uns dizem que é problema dos outros, outros que a responsabilidade é dos primeiros. No meio disso tudo, a população do Jardim Cândido que se arrume.
O pior é saber que essa não é uma situação isolada. Pelo Brasil afora, comunidades inteiras vêm perdendo acesso a serviços bancários básicos - sempre com a mesma desculpa de "otimização de custos". Como se o direito ao banco fosse luxo, não necessidade.
Resta torcer para que alguém, em algum gabinete com ar-condicionado, lembre que existem pessoas reais por trás desses números todos. Até lá, o jeito é se preparar para as longas filas - tanto no ponto de ônibus quanto no caixa eletrônico.