Neguinho da Beija-Flor Desfia o Verbo: A Batalha pelo Senado e os Desafios da Esquerda no RJ
Neguinho da Beija-Flor sobre Senado: "Não vou me meter"

O camarim do samba agora vira tribuna política — e quem diz isso é ninguém menos que Neguinho da Beija-Flor, voz que há décadas ecoa pelos corredores do Carnaval carioca. Em conversa franca, quase um desabafo, o artista despeja opiniões que beiram a crônica política.

"Olha, não vou me meter nessa fria não", dispara ele, sobre a possibilidade de concorrer ao Senado. "Cada um no seu quadrado. Meu negócio é música, é samba, é Beija-Flor." A fala vem carregada daquelas pausas dramáticas que só quem está acostumado a comandar multidões sabe dar.

O xadrez partidário que preocupa

Mas é quando o assunto vira a esquerda que o sambista solta a voz. "Tá uma bagunça danada", crava, sem meias palavras. "Todo mundo quer ser candidato, todo mundo quer ser o dono da verdade." Ele tem um ponto — a fragmentação nas fileiras progressistas parece mesmo um quebra-cabeça com peças demais.

O que mais espanta é sua lucidez ao analisar o tabuleiro eleitoral. Neguinho não é daqueles que fala bonito sem dizer nada. Ele aponta o dedo: a pulverização de candidaturas pode ser o passaporte para a direita radical voltar com tudo. "A gente se divide, eles se unem. Matemática simples, não é?"

Beija-Flor na arena política

A escola de samba de Nilópolis, diga-se de passagem, sempre teve veia política — mas agora parece estar num momento decisivo. O artista deixa transparecer que a agremiação não vai ficar neutra nesse processo. "A Beija-Flor tem história, tem posição", afirma, com aquela convicção que só quem viveu décadas de Carnaval pode ter.

E ele vai além: defende que as lideranças comunitárias e culturais precisam ocupar espaços. "Mas tem que ser com responsabilidade, não é qualquer um que pode sair por aí se candidatando." Soa quase como um puxão de orelha em certos colegas de militância.

O recado que ecoa além do samba

O que Neguinho traz não é apenas mais uma opinião — é a visão de quem está na base, quem conhece o povo, quem respira a cultura popular. Suas críticas à desunião da esquerda fluminense doem justamente porque vêm de dentro.

"Tem hora que é preciso calar o ego e pensar no coletivo", arremata, num tom que mistura cansaço e esperança. E nesse momento conturbado da política brasileira, talvez essa seja a letra que todos precisamos ouvir.