
O clima estava pesado no ar quando Alexandre Padilha pegou o microfone. E não deu outra — soltou a língua com uma franqueza que fez mais de um aliado do governo tremer na base.
"A saúde não aguenta mais ser tratada como conta de supermercado", disparou o ex-ministro, com aquela cara de poucos amigos que todo mundo conhece. A metáfora, simples mas eficaz, ressoou na plateia como um soco no estômago.
O aviso que ecoou nos corredores do poder
Não foi um discurso qualquer. Longe disso. Padilha, que já comandou a pasta da Saúde com mão de ferro, falava com a autoridade de quem conhece cada parafuso do SUS. E deixou claro: cortar verba da saúde agora é como remover os alicerces de um prédio em pé.
"Estamos no limite", alertou, a voz carregada de uma urgência que parecia acumulada há anos. "Qualquer redução adicional significará fechar leitos, demitir profissionais e, no fim das contas, deixar gente morrendo na fila."
Os números que não mentem
O que mais assusta — e Padilha fez questão de enfatizar — é que essa não é opinião de um político qualquer. São dados concretos, daqueles que doem quando a gente para pra pensar:
- O SUS atende 80% da população brasileira diariamente
- Já operamos com recursos abaixo do necessário há pelo menos cinco anos
- Qualquer corte, por menor que seja, tem impacto direto na ponta
E aí é que a coisa complica. Porque saúde, diferente de outras áreas, não dá pra adiar. Doença não espera o orçamento melhorar, não negocia prazos.
Uma ironia amarga
O mais curioso — ou trágico, dependendo do ponto de vista — é que Padilha falava justamente quando o governo anuncia novos ajustes fiscais. Coincidência? Difícil acreditar.
"Não podemos cometer o mesmo erro de 2015", lembrou, referindo-se aos cortes que, na avaliação de muitos especialistas, contribuíram para o colapso de várias unidades de saúde durante a pandemia.
Parece que a história gosta mesmo de se repetir. Só que dessa vez, avisou Padilha, as consequências podem ser ainda piores.
O recado final
No fim das contas, o que ficou claro no discurso do ex-ministro foi um misto de alerta técnico e quase um apelo desesperado. Algo como: "pelo amor de Deus, aprendam com os erros do passado".
Será que vão ouvir? Essa é a pergunta que fica pairando no ar, mais incômoda que silêncio em reunião familiar.
Enquanto isso, o SUS — esse gigante de pés de barro — segue sustentando a saúde de milhões de brasileiros. Torcendo para que os cortes do papel não se transformem em cortes de vida.