
Não é todo dia que um ex-presidente dos Estados Unidos resolve meter a colher em programas de saúde brasileiros — mas quando acontece, a resposta vem com gosto de revolta. A Associação de Médicos Cubanos no Brasil soltou o verbo após Donald Trump atacar o Mais Médicos em seu podcast, e o recado foi claro: "senhor ex-presidente, informe-se melhor".
O programa, que já completou uma década, trouxe mais de 20 mil profissionais de Cuba para atender regiões carentes do Brasil. E olha só: segundo a entidade, os números não mentem — cobertura básica de saúde aumentou em 36% nos municípios participantes. "Tem gente que fala sem saber o que acontece nos rincões desse país", disparou o presidente da associação, com aquele misto de indignação e cansaço de quem já explicou isso mil vezes.
O que realmente disse Trump?
Num tom que alternava entre o sarcástico e o alarmista, o ex-mandatário americano chamou o programa de "exportação de mão de obra barata" e insinuou — sem provas — que os médicos não teriam formação adequada. "É típico dele inventar narrativas", comentou uma médica cubana que atua no interior da Bahia há 7 anos, enquanto organizava fichas de pacientes numa unidade de saúde com paredes descascadas.
Curiosamente, os ataques coincidem com um momento delicado nas relações EUA-Cuba. Será mera coincidência? Difícil dizer, mas a associação não perdeu tempo em lembrar que o programa foi avaliado positivamente pela OMS e por governos de diferentes matizes políticos no Brasil.
Números que falam por si
- Mais de 63 milhões de consultas realizadas
- Presença em 85% dos municípios com maior vulnerabilidade
- Redução de 58% nas internações por condições sensíveis à atenção básica
"Quando cheguei numa cidade do Piauí em 2014, a população nunca tinha visto um médico de perto", conta uma pediatra cubana, os olhos marejados. "Agora me chamam de 'doutora do povo'." Histórias como essa se multiplicam pelo Nordeste e Amazônia — regiões que, convenhamos, nunca foram prioridade na agenda de Trump.
O Ministério da Saúde brasileiro, por sua vez, emitiu uma nota técnica reafirmando os "resultados extraordinários" da iniciativa. Enquanto isso, nas redes sociais, a hashtag #MaisMédicosSalvamVidas viralizou, com depoimentos emocionados de pacientes atendidos pelo programa.
Resta saber se essa tempestade em copo d'água — ou seria em xícara de chá? — terá algum efeito prático. Por enquanto, os médicos cubanos seguem trabalhando, muitas vezes em condições precárias, enquanto o debate político esquenta lá fora.