
O cenário do Judiciário paulista está prestes a viver um momento que muitos consideram histórico — e, francamente, há muito esperado. Pela primeira vez em seus 131 anos de existência, o Tribunal de Justiça de São Paulo pode ter dois advogados negros ocupando cadeiras como desembargadores. Sim, você leu certo: a primeira vez.
O governador Tarcísio de Freitas tem nas mãos uma decisão que vai muito além de simples nomeações. São duas vagas em aberto — uma na capital, outra em Campinas — e a expectativa é que a escolha seja anunciada nos próximos dias. O clima nos corredores do tribunal é de ansiedade misturada com esperança.
Os nomes por trás da história
Na lista tríplice enviada ao Palácio dos Bandeirantes, aparecem nomes que carregam o peso dessa representatividade. Em São Paulo, concorrem Marcelo da Costa Carvalho Neves, Maurício Lopes Couto e Paulo Roberto de Souza. Já em Campinas, as opções são Alexandre Luís Torres de Carvalho, Luis Felipe de Toledo Lopes e Marcelo Benacchio.
O que pouca gente sabe é que essa não é apenas uma questão de cor. É sobre trajetórias. São décadas de advocacia, de construção de carreira em um ambiente que nem sempre foi acolhedor para profissionais negros. E agora, a possibilidade real de chegarem ao topo.
Um tribunal que ainda reflete pouco o Brasil real
Aqui vai um dado que faz pensar: dos atuais 360 desembargadores do TJ-SP, apenas 11 se declaram negros. Isso representa meros 3% do total — num estado onde mais da metade da população é preta ou parda. Os números falam por si, não é?
E tem mais: desses 11, apenas um — sim, um único — veio da advocacia. Os demais eram juízes de carreira quando foram promovidos. Isso mostra como o acesso à cúpula do Judiciário por advogados negros tem sido, digamos, bastante restrito.
Por que essa nomeação importa?
Além do óbvio — que é a quebra de uma barreira histórica — há algo mais profundo em jogo. A diversidade no Judiciário não é apenas sobre justiça social. É sobre qualidade das decisões. Quando pessoas com diferentes experiências de vida se sentam para julgar, a justiça ganha novos ângulos, novas perspectivas.
E não me venham com aquela história de que "não importa a cor, importa a competência". Claro que a competência importa — e muito. Mas representatividade também importa. São coisas que andam juntas, não opostas.
O governador Tarcísio tem agora a chance de fazer diferente. De mandar um recurso claro sobre o tipo de Judiciário que queremos construir. Resta saber se ele vai aproveitar a oportunidade.
Os próximos dias serão decisivos. E, de certa forma, históricos.