O que o silêncio de Trump e Lula sobre Bolsonaro revela sobre a política internacional
Trump e Lula em silêncio sobre Bolsonaro

O mundo político às vezes fala mais alto através do que não diz. E o que estamos testemunhando agora é uma daquelas situações onde o silêncio é simplesmente ensurdecedor.

Dois pesos pesados da política continental - Donald Trump nos Estados Unidos e Luiz Inácio Lula da Silva aqui no Brasil - parecem ter encontrado uma rara convergência: nenhum dos dois quer falar sobre Jair Bolsonaro. E isso, meus caros, diz muito mais do que qualquer discurso inflamado poderia expressar.

O que está por trás do mutismo estratégico

Trump, que sempre foi tão prolixo nas redes sociais, especialmente sobre aliados políticos, simplesmente evaporou quando o assunto é seu antigo "amigo" brasileiro. Já Lula, que nunca perde uma oportunidade de criticar o predecessor, parece ter engolido a língua - pelo menos publicamente.

É estranho, não é? Dois políticos conhecidos por não medirem palavras, de repente ficam mudos sobre um tema que, em outras circunstâncias, seria manchete certa.

As possíveis razões do silêncio trumpista

Trump está numa situação delicada. Sua própria campanha presidencial nos EUA enfrenta desafios jurídicos sérios, então talvez não queira associar sua imagem a outro político com problemas legais. Há também o fato de que Bolsonaro não está mais no poder - e Trump, sabemos bem, tem uma queda especial por quem está no comando.

Mas suspeito que vai além disso. O ex-presidente americano pode estar recalculando sua estratégia para a América Latina, e um Bolsonaro enfraquecido não se encaixa mais nos planos. Política internacional é um jogo de xadrez, e algumas peças simplesmente perdem valor com o tempo.

E o que explica o calar de Lula?

Por outro lado, Lula tem razões igualmente complexas para seu silêncio. Falar sobre Bolsonaro poderia reacender polarizações que o governo atual tenta superar. Há também a questão prática: por que dar holofote a um adversário político que está fora de cena?

Mas talvez - e isso é só minha opinião - haja um cálculo mais sofisticado. Ignorar Bolsonaro pode ser uma forma sutil de diminuir sua relevância política. Na arena pública, a indiferença às vezes dói mais que o confronto.

Um retrato da realpolitik contemporânea

O que essa situação nos mostra é como a política internacional funciona na prática, longe dos holofotes e dos discursos preparados. São alianças que se formam e se desfazem conforme os ventos mudam, lealdades que se mostram mais frágeis do que aparentavam.

Trump e Lula, em lados opostos do espectro ideológico, encontraram-se no mesmo território do cálculo político pragmático. E nesse território, às vezes a melhor estratégia é simplesmente não jogar.

O silêncio deles fala volumes sobre o lugar que Bolsonaro ocupa hoje no cenário global. E, entre nós, essa mensagem silenciosa pode ser a mais eloquente de todas.