
É quase palpável, sabe? Aquele clima pesado que ainda paira sobre certos grupos. Não é só raiva ou frustração — é algo mais profundo, quase visceral. Uma sensação de perda que teima em não desaparecer, mesmo com o tempo passando.
E o curioso é que não estamos falando de uma morte física, mas de uma derrota nas urnas. Como explicar que tantas pessoas continuem vivendo um luto tão intenso por um resultado eleitoral?
Mais do que política: uma questão de identidade
Parece exagero? Talvez. Mas a verdade é que para muitos apoiadores, Bolsonaro transcendeu a figura do político comum. Tornou-se um símbolo, quase uma extensão de suas próprias identidades. Quando ele perdeu, não foi apenas um candidato sendo derrotado — foi parte deles que morria ali.
É complicado de explicar, mas faz sentido se você parar pra pensar. Nos últimos anos, a política deixou de ser só sobre propostas e ideologias. Virou guerra tribal, identitária. Você não defendia apenas um governo — defendia quem você era.
Os sintomas desse luto peculiar
Dá pra ver claramente nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, nas conversas de boteco. A negação persistente — "as eleições foram fraudadas". A raiva direcionada — contra o STF, a mídia, os "comunistas". A barganha improvável — "ele ainda volta".
E a depressão? Ah, essa é visível. O desânimo, a descrença no sistema, aquela sensação de que "nada mais importa".
- Recusa em aceitar a realidade
- Idealização do passado recente
- Busca por explicações conspiratórias
- Isolamento em bolhas ideológicas
Não é frescura, não. É um processo de luto legítimo — mesmo que o objeto do luto seja, digamos, incomum.
Por que isso acontece justamente agora?
Bom, a gente vive tempos estranhos. A pandemia nos isolou, as redes sociais nos radicalizaram, a crise econômica nos assustou. Criou-se o cenário perfeito para apegos emocionais exacerbados.
E tem outro fator: a idade. Muitos desses apoiadores são pessoas mais velhas, que cresceram em outra época, com outros valores. Veem o mundo mudando rápido demais e se agarram a figuras que representam uma suposta estabilidade perdida.
É assustador, quando você para pra analisar. A política virou religião, o candidato virou messias, a derrota eleitoral virou apocalipse.
E quando a aceitação finalmente chegar?
Difícil dizer. Alguns já superaram, seguindo em frente. Outros ainda estão presos no ciclo — e pior, sendo incentivados a ficar por líderes que se beneficiam desse estado permanente de indignação.
O preocupante é que um eleitorado enlutado é um eleitorado vulnerável. Aberto a discursos radicais, propostas mirabolantes, soluções mágicas. E isso, convenhamos, não é bom pra ninguém.
Mas talvez haja esperança. A vida tem dessas coisas — com o tempo, até as dores mais profundas amenizam. O desafio é não deixar que essa dor se transforme em algo pior: em ódio que corrói, em radicalização que divide, em cinismo que paralisa.
No fim das contas, todos perdemos quando parte do país fica presa no passado. A democracia precisa de cidadãos presentes, não de fantasmas políticos.