
O ar pesava naquela sala sem janelas, sabe? Um daqueles ambientes que parecem ter engolido toda a luz do mundo. E no centro, Maria Corina Machado — uma mulher que carrega nos ombros o peso de uma nação inteira.
Lembro-me de pensar: caramba, esta mulher não dorme. Os olhos falavam mais que qualquer discurso — cansados, sim, mas com uma chama que nem dez exércitos apagariam. A Venezuela sangrava lá fora, e ali dentro ela coordenava a resistência como um general moderno.
O coração da resistência
Mapas. Telas. Papéis espalhados. Parecia cenário de filme, mas era terrivelmente real. Cada documento contava uma história — de perseguição, de esperança, de gente comum fazendo coisas extraordinárias.
"Eles pensam que nos quebraram", disse ela em algum momento, com aquela voz que mistura cansaço e teimosia. "Mas subestimaram o povo venezuelano."
Os números que doem
Setenta e quatro por cento. Este número ecoava na sala como um mantra. Setenta e quatro por cento dos votos nas primárias — uma legitimidade que qualquer político normal mataria por ter. Só que na Venezuela, legitimidade parece ser crime.
E ela, impedida de concorer. Uma candidata proibida de ser candidata — o que soa como piada de mau gosto, não?
Maduro: o elefante na sala
Falando nele... O regime age como criança mimada que não aceita perder no parquinho. Inventa regras na hora, desqualifica quem está ganhando, e quando nada funciona, simplesmente quebra o brinquedo.
Maria Corina me olhou fixamente: "Eles podem me prender. Podem me calar. Mas não podem apagar o que já plantamos." E sabe de uma coisa? Acreditei nela.
A máquina de destruir esperanças
O governo venezuelano montou um esquema que é quase obra de ficção científica:
- Primeiro, invalidam suas próprias primárias — porque, claro, democracia que se preze não permite que o povo escolha
- Depois, criam obstáculos que nem Hércules conseguiria pular
- Por fim, quando tudo falha, simplesmente riscam seu nome da disputa
É de cair o queixo, literalmente.
O paradoxo venezuelano
O mais irônico? Maduro fala em diálogo, em eleições limpas, enquanto pratica o jogo sujo mais descarado que já vi. É como convidar alguém para um duelo e chegar atirando pelas costas.
Maria Corina riu — uma risada amarga, daquelas que doem na alma. "Eles querem que desistamos. Que aceitemos as migalhas que oferecem."
A resistência que não para
Mas sabe o que mais me impressionou? A rede que construíram. Jovens, velhos, ricos, pobres — uma teia de solidariedade que se espalha por todo o país. Enquanto o regime aposta no medo, a oposição aposta na esperança.
E no centro dessa teia, aquela sala escura. Aquele bunker. Aquela mulher.
Saí de lá com uma certeza: podem prender, podem cassar, podem proibir. Mas algumas sementes, uma vez plantadas, nem um regime inteiro consegue arrancar.
A Venezuela ainda respira. E sua respiração ecoa naquela sala sem janelas, onde uma mulher insiste em acreditar no impossível.